São Paulo, quarta-feira, 2 de julho de 1997
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Para CCJ, compra de votos ficará impune

LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os depoimentos prestados até agora revelam a impossibilidade de a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara chegar a alguma conclusão sobre a denúncia de compra de votos a favor da reeleição. Essa é a opinião de parlamentares que acompanham as investigações.
Para o deputado Matheus Schmidt (RS), vice-líder do PDT e membro da CCJ, faltam elementos para comprovar o ato perfeito de compra e venda de votos. "Não temos como condenar alguém por ter vendido o voto se não temos como identificar o comprador."
"Só há dois caminhos: ou o relator propõe a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) ou não conclui nada. Essa comissão não tem poderes para ir mais adiante", afirmou o deputado Adhemar de Barros Filho (PPB-SP), membro da CCJ.
Desde 11 de junho, seis políticos foram ouvidos e afirmaram desconhecer qualquer esquema de compra de votos pró-reeleição.
Nas gravações obtidas pela Folha, os ex-deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do Acre, dizem que receberam dinheiro para votar a favor da reeleição e apontam como organizadores da operação de compra o ministro Sérgio Motta (Comunicações) e os governadores Amazonino Mendes (PFL-AM) e Orleir Cameli (sem partido-AC). Os três já prestaram depoimento e negaram que tenham comprado votos.
Nas gravações, Ronivon disse que os deputados Chicão Brígido (PMDB-AC) -licenciado-, Osmir Lima (PFL-AC) e Zila Bezerra (PFL-AC) também venderam os votos. A CCJ analisa o processo de cassação do mandato dos três.
"Para mim, os três serão bodes expiatórios desse processo", afirmou Schmidt. "O relator poderá até dar um voto político recomendando a cassação, mas não terá a menor consistência jurídica."
Para os deputados, a única forma de desvendar o esquema de compra e venda de votos seria a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos envolvidos. Dentro do Congresso, a Constituição dá esse poder somente a uma CPI. 'Sem quebra de sigilo e compromisso de dizer a verdade, não vamos chegar a nada. Esta investigação é marmelada, faz-de-conta", disse.
O deputado Jarbas Lima (PPB-RS) sugeriu que a CCJ solicite à Justiça a quebra do sigilo bancário de Ronivon e Maia. "Nós temos que mostrar o ridículo dessa investigação", afirmou Lima.
Segundo o presidente da CCJ, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), a comissão cumpre seu dever. "Está tendo a coragem de chamar a todos."

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