São Paulo, quarta-feira, 2 de julho de 1997
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Relator quer ouvir fitas e identificar o "Senhor X"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara só conseguirá apurar a denúncia de compra de votos a favor da reeleição se ouvir os ex-deputados Ronivon Santiago e João Maia, conseguir cópias completas das fitas e identificar o autor das gravações.
A avaliação é do deputado Nelson Otoch (PSDB-CE), relator do processo de cassação dos três deputados do Acre acusados de ter vendido o voto a favor da reeleição.
"Se a CCJ tiver essa oportunidade, encontrará a verdade", afirmou o deputado.
Amparada no princípio constitucional do sigilo da fonte, a Folha informou à CCJ que não fornecerá cópias dos trechos das fitas que possibilitem identificar o autor das gravações.
Após as reportagens da Folha, Maia e Santiago foram expulsos do PFL e, em seguida, renunciaram. Eles não foram prestar depoimento, e a CCJ não conseguiu sequer localizá-los.
A seguir, os principais trechos da entrevista de Otoch concedida à Folha.
*
Folha - O sr. já tem elementos para saber se houve ou não compra de votos?
Nelson Otoch - Nós não estamos nos permitindo fazer, até o presente momento, nenhuma avaliação de mérito porque ainda estamos nos procedimentos processuais.
Nós vamos concluir todos os procedimentos, ouvir todas as pessoas. Quando tudo estiver concluso, aí iniciaremos nosso relatório e entraremos no mérito.
Folha - Dentro do roteiro que o sr. estabeleceu, o que está faltando e o que é fundamental para as investigações?
Otoch - Olha, de fundamental, o depoimento dos ex-deputados Ronivon Santiago e João Maia, as fitas para termos um conhecimento global de todos os diálogos e a identificação do "Senhor X", para que também pudéssemos ouvi-lo.
Com esses três elementos, sem sombra de dúvida, iríamos ter a verdade transparente, cristalina e que a sociedade brasileira tanto deseja saber.
Folha - Mas dificilmente o sr. terá todos esses elementos. Então, o que pode ser feito?
Otoch - Eu, como relator, tenho que me limitar ao processo. Ao final do meu relatório, tenho que apresentar conclusões. E, nesse relatório, sem sombra de dúvidas, a meu critério eu definirei, se for o caso, a responsabilidade de quaisquer pessoas que não tenham colaborado para trazer a verdade aos autos.
Folha - A CCJ tem condições de chegar à verdade?
Otoch - Se a CCJ não tiver condições, nenhum outro fórum terá. Agora, se houver a colaboração dos ex-deputados e da Folha, eu acho que a CCJ terá condições de apurar.
A CPI teria poder de polícia para fazer as pessoas comparecerem, mas só o poder divino poderia obrigá-las a falar e a falar a verdade.
Folha - E a quebra de sigilo?
Otoch - A Folha publicou que os cheques foram trocados por dinheiro, e dinheiro não tem sigilo bancário.
Até a comissão de sindicância, se tivesse tido o depoimento verdadeiro dos implicados, o acesso às fitas e identificado o "Senhor X", teria encontrado a verdade.
Se a CCJ tiver essa oportunidade, também encontrará a verdade.
Folha - Em que pode ajudar a identificação do "Senhor X"?
Otoch - Não quero me antecipar em nenhum juízo de valor, mas, se o "Senhor X" for identificado, vamos saber as motivações do "Senhor X" e suas ligações.

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