São Paulo, quarta-feira, 2 de julho de 1997
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Cyrus Chestnut vem para o Free Jazz

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MONTREAL

Um dos pianistas de jazz mais talentosos e completos da nova geração virá ao Brasil em outubro. Trata-se do norte-americano Cyrus Chestnut, 34, que revelou à Folha que participará do próximo Free Jazz Festival.
"Sou apaixonado por um disco de João Gilberto que se chama 'Amoroso'. Adoro a música brasileira", diz o pianista, que até hoje só esteve uma vez no país.
Pelo que mostrou anteontem, durante sua apresentação no Festival Internacional de Jazz de Montreal, no Canadá, Chestnut tem tudo para multiplicar rapidamente seu número de admiradores.
Dono de uma técnica admirável, ele sabe combinar muito bem sua bagagem jazzística com a influência da música erudita, que começou a praticar ainda na infância, junto com a música religiosa.
"Minha vida musical começou na igreja, aos 7 anos de idade. Foi ali que eu aprendi o que era ritmo, melodia, improvisação e arranjo. Essa música é uma parte de mim", diz o norte-americano.
A forte ligação de Chestnut com a música religiosa domina seu quarto disco solo, o recém-lançado "Blessed Quietness" (Atlantic), que a Warner promete lançar nas próximas semanas, no Brasil.
O álbum reúne "spirituals" e hinos religiosos afro-americanos, que foram recriados por Chestnut a partir da linguagem do jazz.
Neto de um pastor pianista, Chestnut cresceu tocando numa igreja batista em Baltimore. O interesse pelo jazz o levou a cursar o famoso Berklee College of Music, em Boston, onde foi premiado com várias bolsas de estudo.
Ali, entrou em contato com os estilos dos grandes pianistas de jazz, de Jelly Roll Morton a Hank Jones, que ajudaram a formar sua personalidade musical.
"Eu jamais tento copiar alguma coisa, mas sim interpretar. Acho que esse esse é um jeito de descobrir quem eu sou", afirma.
"Para mim, o jazz é expressão. É a liberdade de se expressar pessoalmente", define o pianista, que mal tinha terminado a escola e já estava acompanhando astros do gênero, como o trompetista Wynton Marsalis.
Hoje, à frente do Cyrus Chestnut Trio, ele esbanja pinta de líder, como demonstrou anteontem, em concerto no Théâtre du Nouveau Monde, em Montreal, assim como no bar Knitting Factory, em Nova York, na última sexta-feira.
Ao lado de Steve Kirby (contrabaixo) e Alvester Garnett (bateria), que também vão acompanhá-lo no Brasil, Chestnut abriu os dois shows com uma vibrante recriação de "It's Alright with Me".
A versão de anteontem, mais feroz ainda que a primeira, confirmou o exuberante improvisador que é Cyrus Chestnut, capaz de alternar força e alta intensidade com passagens bastante delicadas.
Já em "Blues from the East", tema sofisticado, ele comprovou seus dotes de compositor.
Sem falar na inusitada versão da erudita "Pour Elise" (hoje conhecida como jingle de caminhão gás de cozinha, no Brasil), que arrancou sorrisos da platéia.
Na melhor tradição do jazz, Chestnut também não dispensa o bom humor.

O jornalista Carlos Calado viajou ao Canadá a convite da TV Zero.

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