São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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'Não faço filmes para agradar a fãs gays', diz Dallesandro

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Joe Dallesandro, 49, o caminhoneiro homossexual Krassky de "Paixão Selvagem", é o que se pode chamar de símbolo de uma geração. Um símbolo derrubado, vivendo de uma glória que jamais alcançou, apesar de ser um dos mais emblemáticos rostos/corpos da Factory, o centro de produção artística nova-iorquino de Andy Warhol nos 60/70.
Dallesandro fez com Warhol "Lonesome Cowboys" (68) e, com seu pupilo Paul Morrisey, "Flash" (69), "Trash" (70) e "Heat" (72). Nos anos 80, assim como havia acontecido com Alain Delon, foi o "garoto da capa" de um dos discos dos Smiths.
"Paixão Selvagem" reafirmou-o nos anos 70 como um ícone gay, comenda que ele hoje rejeita amplamente -"faço filmes porque alguém me chama para fazê-los". Mas não parece se importar muito que sites gays da Internet ganhem dinheiro expondo-o nu.
Com uma filmografia que chega a 50 atuações, trabalhando com diretores como Louis Malle, ele hoje se sustenta fazendo filmes de baixo orçamento. Leia trechos da entrevista que o ator concedeu à Folha, por telefone, de Los Angeles.
*
Folha - O sr. continua fazendo filmes?
Joe Dallesandro - Começo em 8 de julho a filmar com um diretor chamado David Ebersole. É um filme de baixo orçamento. Mostra um triângulo amoroso, dois amigos, um deles volta à sua cidade para ver uma mulher. Essa mulher tem agora um bebê e diz para esse homem que a criança é filha dele.
Folha - Pelo menos na primeira parte lembra "Paixão Selvagem".
Dallesandro - Talvez, um pouco... Mas "Paixão Selvagem" é muito mais interessante. É um filme anterior a seu tempo. Tivemos dificuldade para conseguir audiência, tem imagens estranhas. Gainsbourg parecia ser um cara do Meio-Oeste americano, conseguia uma estética assim na França.
Folha - O sr. não se importa de estar ligado a um imaginário gay e underground?
Dallesandro - Faço filmes porque alguém me chama para fazê-los, não para agradar aos meus fãs gays. Sou um ator. Já fiz filmes de arte na França, "Cotton Club", bad boys na Itália, "Miami Vice" etc. Relacionar-me apenas com a Factory e Warhol é um absurdo.
Folha - Como era sua relação com Gainsbourg?
Dallesandro - Éramos muito próximos. Ele sabia exatamente o que queria como diretor e sabia conseguir a melhor performance de seus atores. "Paixão Selvagem" é a história de sua própria vida.

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