São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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FHC faz crítica a 'burocratas' que ignoram o mundo globalizado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem "os burocratas" que não levam em conta o processo de globalização e tomam medidas em âmbito mundial que têm "repercussões terríveis no plano internacional".
FHC se referiu especificamente às mudanças nas regras de financiamentos das importações, tomadas durante uma visita de Estado que ele fazia ao Uruguai, em abril. "Imaginavam os burocratas que a tomaram -digo burocratas porque eu estava no Uruguai e não sabia, e eu era presidente da República- tomaram, com a maior boa-fé, uma medida que era aparentemente de política interna (...) que teve repercussões terríveis no plano internacional."
Segundo o presidente, a medida tomada "não foi tramada para quebrar a unidade, a solidariedade latino-americana ou o Mercosul. Foi tomada burocraticamente porque se imaginava que essa era uma decisão interna".
O exemplo foi citado pelo presidente para ilustrar a conferência que fez ontem sobre "Desafios Atuais da Governabilidade e da Democracia", na abertura da 5ª Conferência de Cúpula sobre Desenvolvimento Político e Princípios Democráticos, que acontece até hoje em Brasília.
"A diferença entre interno e externo, nessas áreas, esmaece, diminui. E esse é o mesmo processo que nós estamos vivendo", afirmou o presidente, para uma platéia integrada por ex-presidentes da República da América Latina e representantes de organismos internacionais dessa região.
Inglaterra e França
Fernando Henrique, ao comentar os novos governos da França e Inglaterra, disse que há "enganos de percepção" quanto ao que é defendido por aqueles partidos. Segundo ele, "muitas vezes estão pensando que se trata da onda rosa contra o neoliberalismo, mas não é isso. É muito mais complicado do que isso. É que nós todos estamos tateando na resolução do cerne das questões".
FHC disse que se vive hoje "crises de governabilidade", que teriam dois planos: mundial e nacional. Segundo ele, enquanto a globalização do sistema produtivo e da área econômica progrediu, "não se seguiu, na mesma proporção, uma definição também global no plano do poder". Para o presidente, "não há o poder mundial legítimo, nem a forma de definição de autoridade".
FHC disse que pela falta desse poder legítimo "as regras se rompem porque há força exercida e não há mecanismos suficientemente fortes para definirem de que maneira se dará o convívio democrático no plano internacional". Para ele, essa dificuldade "se reflete na crise das Nações Unidas" na questão do seu conselho de segurança "que muitas vezes (reflete) incapacidade de atuação e algumas vezes a falta de legitimidade para decisões tomadas".
O presidente disse que essas dificuldades -"a reação da sociedade"- foram superadas e, em certos países, "domesticadas". "A sociedade atual demanda, mais e mais, as razões e os argumentos. Ela não tem medo do sofrimento, quando ele é antecipado e explicado o porquê. Mas ela tem horror do engano, horror de ser surpreendida por alguma coisa."

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