São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Temos de engolir Zagallo, trânsito e caos?

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Vão construir um shopping no bairro residencial, repito, residencial, de Higienópolis? Nesse caso, São Paulo perde a oportunidade de repensar um processo de desenvolvimento absolutamente equivocado.
A cidade vive parada e a reclamar dos olhos que doem com a fumaça, da tosse, dos congestionamentos de 150 km. O rodízio se impôs por conta da insustentável sujeira do ar.
Então dá-lhe flanelinha, camelô, bicheiro e outros satélites congêneres. É isso?
E o lixo que será catado num bairro que já sofre com ruidosas caçambas noite adentro?
Apegando-se a firulas da lei, quem quer o shopping não topa fazer estudos de impacto ambiental e de vizinhança.
Tal projeto seria impensável em qualquer cidade civilizada. Sabe onde ficam os shoppings desse porte nas cidades americanas? Em zonas periféricas, não-habitadas e de fácil acesso.
O empresário que se metesse em tal empreendimento nos EUA ou na Europa sofreria boicote e teria a vida infernizada por grupos organizados.
Confira: em Roma o McDonald's não tem aqueles "emezões" grotescos como, por exemplo, o da av. Dr. Arnaldo. Note também, serve macarrão. Ou seja: adaptou-se, na marra, à cultura local.
Claro. Nós somos influenciáveis. Gostamos de shopping e de logotipos enormes. Achamos normal o "vencedor" Zagallo, com aquela pinta de "clochard", berrar com os olhos esbugalhados na nossa sala de estar depois de vencer a poderosa Bolívia.
Tudo bem. Mas enfiar milhares de carros entrando e saindo de um bairro residencial não é um pouquinho "too much"?
Argumentos chovem por parte do meu amigo, o dono de shoppings Paulo Malzoni. Avaliei todos no banho. Não resistiram a uma ducha. Moradores do bairro querem, diz ele, citando pesquisas.
Ótimo. O pessoal também já não quis Hitler e a dança da "Macarena"?
Perguntar apenas se você quer um shopping perto de casa é uma coisa. Perguntar e mostrar todo o quadro, com relatórios de impacto ambiental e de vizinhança é outra. Isso não foi feito. E, me arrisco a dizer, não será.

Texto Anterior: Catracas eletrônicas estréiam em janeiro
Próximo Texto: Alô, ministro!; Perda de tempo; Patim é cultura
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.