São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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Ex-líder guerrilheiro pega prisão perpétua

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

O ex-guerrilheiro argentino Enrique Gorriarán Merlo, 55, foi condenado na madrugada de ontem à prisão perpétua.
Ele foi um dos fundadores do ERP (Exército Revolucionário do Povo), grupo de extrema esquerda que praticou várias ações terroristas na Argentina durante os anos 70 -quando o país era governado por juntas militares.
Como dirigente e criador do MTP (Movimento Todos pela Pátria), Merlo planejou o ataque ao quartel militar de La Tablada (em Buenos Aires), ocorrido em janeiro de 1989, durante o governo civil do presidente Raul Alfonsín.
A promotoria alegou que o MTP planejava, com o ataque, iniciar um golpe de Estado na Argentina e instalar um governo revolucionário de esquerda.
Fracasso
A ação foi um fracasso. Após mais de 10 horas de combate, tropas do Exército e da polícia argentina conseguiram retomar o quartel. Ao final, 39 pessoas morreram (28 integrantes do MTP, sete soldados, um policial e três civis).
Desde que fugiu da Argentina, em 1972, Gorriarán Merlo se tornou um dos homens mais procurados pelas autoridades policiais do país.
Ele viveu no Chile, em Cuba, na Nicarágua e no México, onde foi preso em outubro de 1985. O ataque a La Tablada foi planejado e ordenado desde o Uruguai.
Na tentativa de anular seu julgamento, ele alegou ter sido "sequestrado" no México pelo serviço de inteligência da Argentina. Seu argumento foi rejeitado pelo juiz Narciso Lugones.
Ana Maria Sívori, ex-mulher de Merlo, também foi condenada por seu envolvimento com o ataque ao quartel de La Tablada. Ela ficará presa por 18 anos.
Ambos foram acusados de rebelião contra o Estado, homicídio, roubo, privação de liberdade, lesões graves e uso de documentos falsos. Gorriarán poderá solicitar sua liberdade condicional dentro de 25 anos, quando terá 80 anos.
Combate
A tentativa de tomar o quartel militar de La Tablada começou na manhã do dia 23 de janeiro de 1989. Os invasores arrebentaram o portão do regimento, permitindo a entrada de outros cinco carros.
Armados com fuzis, metralhadoras e granadas, eles foram direto ao dormitório dos recrutas, jogaram uma granada e começaram a atirar para todos os lados.
Inicialmente, apenas a polícia civil foi destacada para retomar o quartel. O Exército entrou em ação por ordem do presidente Alfonsín.
Pouco antes das 12h, um tanque invadiu o regimento para permitir a saída dos recrutas que haviam sobrevivido ao ataque do dormitório. Ao entrar no pátio central, o tanque passou por cima de vários corpos e de automóveis usados pelos guerrilheiros.
Nove meses após o ataque ao quartel de La Tablada, a Justiça da Argentina condenou 13 membros do MTP à prisão perpétua.
Antecedentes
Em 1987 e 1988, o presidente Raul Alfonsín já havia enfrentado duas rebeliões militares -comandadas pelos oficiais Aldo Rico e Mohamed Ali Sieneldín, ambos ligados aos grupos que comandaram o país entre 1976 e 1983.
As rebeliões dos "carapintadas" (como ficaram conhecidos os militares ligados aos dois comandantes) levaram Alfonsín a enviar ao Congresso a Lei da Obediência Devida -que anistiou oficiais subalternos- e a Lei do Ponto Final -que limitou o número de processos civis contra militares.

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