São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997 |
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Pesquisas desenvolvem condições para enviar ser humano a Marte
PAULO HENRIQUE BRAGA
O plasma é considerado por alguns cientistas como o quarto estado da matéria. Plasma é um gás altamente energético formado por partículas ionizadas, isto é, carregadas de carga elétricas. Segundo Chang-Díaz, motores a plasma reduziriam o tempo de viagem a Marte dos atuais sete meses para dois meses e meio. Afirmou ainda que o foguete teria carga para permanecer no planeta por dois meses antes de voltar à Terra, totalizando sete meses, menos tempo do que o homem já permaneceu no espaço -aproximadamente 400 dias. O astronauta e físico afirmou que em breve serão feitos testes no espaço, o que permitiria avaliar a eficiência do protótipo em condições reais. Disse ainda que já é possível pensar em enviar humanos ao planeta vermelho a partir de 2005. "A tecnologia hoje disponível faz apenas dois mundos ficarem ao alcance do homem: a Lua e Marte. O homem já esteve na Lua. Marte é mais parecido com a Terra do que a Lua, tem atmosfera e água congelada. Além disso, já foi mais quente e úmido do que é hoje. Pode ter havido vida ali e é possível que ainda haja em algum habitat protegido", disse à Folha Karen Rugg, da Sociedade Espacial Nacional dos EUA. Até o foguete a plasma sair dos laboratórios da Nasa, o homem terá de se contentar com dados enviados à Terra por sondas porque o principal impedimento para a realização de viagens tripulada a Marte são os problemas causados pela quase ausência de gravidade e pela ação dos raios cósmicos sobre o corpo. Resistência do corpo humano "A pergunta é a seguinte: o ser humano aguenta tanto tempo fora da gravidade terrestre?", disse à Folha a pesquisadora brasileira Thaís Russomano, que trabalha no King's College de Londres. Segundo Russomano, uma viagem a Marte imporia ao astronauta várias situações gravitacionais. Ele sairia do campo gravitacional da Terra para a microgravidade do espaço, ficando nessas condições durante a viagem de ida. Em Marte, ocorreria a transição para um campo gravitacional correspondente a um terço do da Terra. "Mas os astronautas teriam de permanecer no planeta por cinco meses para que Marte voltasse ao ponto de sua órbita em que se aproxima mais da Terra." Depois, no caminho de volta, todas as readaptações teriam de ser feitas novamente. O sistema circulatório se adapta em 24 h à microgravidade. O sistema responsável pelo equilíbrio deixa de causar desconforto em 72 h. Segundo ela, não é possível dizer com certeza que o mesmo padrão se repetirá em uma viagem a Marte. Também não se sabe se os ossos e músculos do corpo, que se atrofiam no espaço, serão capazes de voltar ao estado normal. Outro problema é a exposição à radiação no espaço, que danifica as células nervosas e o material genético. Somos marcianos Complicada ou não, chegar a Marte continua sendo um projeto humano."Marte sempre exerceu um fascínio especial para o homem, em parte porque pode ter havido vida em algum momento de sua história", disse à Folha Roger Launius, chefe do departamento de história da Nasa. Alguns pesquisadores chegam mesmo a acreditar que Marte teria fertilizado a Terra com vida. E descoberta de vestígios microbianos em um meteorito teria reforçado a hipótese, segundo a qual Marte teria formas simples de vida antes de os primeiros compostos orgânicos aparecerem na Terra. "Um pedaço de Marte caiu na Terra, semeou o planeta e nós somos o resultado. Nesse cenário, nós é que somos os marcianos", disse Ed Shostak, da Liga Seti (Busca por Sinais de Inteligência Extraterrestre). Colaborou Paulo Henrique Braga, de Londres Texto Anterior: Sondas pesquisam segredos dos planetas desde os anos 60 Próximo Texto: O que aconteceria com o homem numa viagem espacial Índice |
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