São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Governo empurra papéis para fundações

FREDERICO VASCONCELOS; MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo recorre às fundações de estatais para empurrar papéis que o mercado não aceita.
A Previ, do Banco do Brasil, socorreu o banco oficial emprestando dinheiro para os funcionários comprarem ações a preços acima das cotações de mercado.
Em outra ocasião, a Previ carregava debêntures da Embaúba (projeto falido de uma usina de álcool) emitidas pelo Brasilinvest, do empresário Mario Garnero. A Previ aceitou permutar essa dívida, em 94, por 3,7 milhões de ações preferenciais da empresa que edita o jornal "Gazeta Mercantil".
No mesmo ano, a Previ participou de um pool de fundos de estatais, coordenado pela Abrapp, para sanear a Gazeta Mercantil S/A.
Como a Constituição veda a participação de pessoas jurídicas no capital social das empresas de comunicação, a compra de ações preferenciais (sem direito a voto), no total equivalente a US$ 23 milhões, foi justificada como uma decisão "dos funcionários, sócios dos fundos de pensão".
Um único fundo privado participou da operação, quebrando a imagem de "socorro" oficial: o da Philips, dirigido por Nelson Rogieri, atual presidente da Abrapp.
Quando o Econômico quebrou, três dos maiores fundos controlados por estatais tinham R$ 183,5 milhões aplicados no banco do ex-ministro Ângelo Calmon de Sá (aliás, a lei que criou os fundos de pensão, em 1977, é assinada por Calmon de Sá, então ministro da Indústria e do Comércio).
Quando o rombo do Econômico já era conhecido, a Abrapp publicou anúncio, a título de homenagem ao 161º aniversário do banco.
Calmon foi premiado pela Abrapp 25 dias antes da intervenção no Econômico. Já o presidente da Bovespa, Alfredo Rizkallah, que também seria homenageado pela Abrapp, não recebeu o prêmio, pois criticou a compra de estatais por fundos de pensão.
(FV e MA)

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