São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Grupo troca Freud por Hegel, Kant e Platão

CLÁUDIA COLLUCCI; RICARDO FELTRIN
DA REDAÇÃO E DO ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE (RS)

Os 15 primeiros filósofos clínicos do Brasil se formaram no ano passado, após dois anos de especialização. O Conselho Regional de Filosofia Clínica (CRFC) vai ser registrado no próximo dia 19, no 1º Cartório de Porto Alegre, segundo Lucio Packter, idealizador da filosofia clínica no Brasil.
Em vez de usar o método freudiano de análise do ego, ou o junguiano -que define o "tipo psicológico" do paciente-, o filósofo clínico estuda "a estrutura do pensamento" de seu cliente.
Eles usam na prática os métodos e sistemas desenvolvidos por filósofos como Kant, Espinoza, Platão, Sócrates, Hegel e Wittgenstein, entre outros.
Uma terapia na filosofia clínica dura, em média, seis meses. As sessões são de 50 minutos. Não há ainda uma tabela de preços definida, mas a maioria das clínicas cobra de R$ 30 a R$ 100 por sessão.
Segundo Deusdeth Estanislau de Oliveira, 38, que fez o curso de especialização, os filósofos clínicos estudam montar cooperativas para baratear os custos das sessões.
Ele afirma que o ambiente das sessões deve ser o mais simples possível.
"A pessoa senta na cadeira, no chão, onde quiser. O importante é deixá-la à vontade."
Aristóteles X Freud
"O pai da psicologia é Aristóteles. Nós, filósofos, só estamos voltando a um espaço que foi nosso no passado", diz o "pai" da filosofia clínica brasileira, Lucio Packter. Ele diz ser "compreensível" a oposição de psicólogos e filósofos, que classificam o movimento de "absurdo" e "sem propósito".
"Os psicoterapeutas e psiquiatras são 'filhos' da filosofia. O que eles fazem hoje é o mesmo que filósofos faziam 2.500 anos atrás: ajudar as pessoas a resolver suas crises interiores, existenciais."
Três anos depois de criado o primeiro curso de especialização, a filosofia clínica vive um "boom" na abertura de consultórios pelo país: quatro clínicas filosóficas já estão funcionando no Rio Grande do Sul (Porto Alegre, Santa Maria, Caxias do Sul e Passo Fundo).
Em São Paulo, a primeira clínica está sendo aberta em Ribeirão Preto. Duas outras devem abrir na capital até dezembro.
Pacientes terminais
Em Viamão (a 24 km de Porto Alegre), a professora Cleuza Maria Bittencourt de Aguiar, 60, formada em filosofia clínica, decidiu usar a nova profissão para atender -gratuitamente- pacientes em estado terminal e seus familiares.
"A morte nos deixa impotentes, sem saída. Por isso, decidi fazer algo com pessoas que estão próximas desse ponto final."
(CLÁUDIA COLLUCCI e RICARDO FELTRIN)

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