São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Método preocupa analista profissional

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O surgimento da profissão de filósofo clínico está causando polêmica entre psicólogos e filósofos. O Conselho Regional de Psicologia (CRP) em São Paulo informou que vê "com preocupação" o surgimento da nova linha terapêutica.
"Embora não conheça com profundidade essa linha, preocupo-me por não saber se essa terapia não poderá vir a causar danos mentais nos pacientes", afirma o presidente do CRP, Sidnei Celso Corocine, 35.
Há 55 mil filiados ao CRP em São Paulo e 100 mil no Brasil.
Para onde?
"Fico imaginando qual será o conceito que esses filósofos usam. Onde eles estão levando as pessoas que vão procurá-los?", pergunta o presidente do CRP em São Paulo.
"Creio que apenas o registro do Conselho Regional de Filosofia Clínica não basta. Essas pessoas estão mexendo com o ser humano, podem afetar e alterar comportamentos. Eles precisam avisar as autoridades que desenvolveram uma técnica de intervenção humana. Devem avisar, talvez, o CNS (Conselho Nacional de Saúde)."
Dividir o 'bolo'
O presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho, também vê a nova profissão com restrições.
"Não tinha conhecimento desse sistema, mas acho que é preciso saber qual o grau de seriedade dos envolvidos", disse à Folha Junqueira Filho, 53.
A Sociedade Brasileira de Psicanálise tem 608 filiados.
"Grosso modo, essa nova profissão representa uma 'divisão do bolo' profissional."
O "bolo", no caso, é dividido hoje entre psicoterapeutas, psicanalistas e psiquiatras.
"Também grosso modo, é óbvio que vão acabar incluindo aí cartomantes, tarólogos etc. São orientações que atendem a uma demanda. Se as pessoas vão procurar uma cartomante, um filósofo clínico ou um psicoterapeuta, vão de livre e espontânea vontade", afirma Junqueira Filho.
"Mas não há dúvidas de que a psicanálise hoje se beneficia muito da filosofia."
Desconhecimento
O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Rogério Wolf de Aguiar, 56, disse não conhecer o sistema desenvolvido pelos filósofos clínicos.
"Mas, em princípio, não vejo problemas no surgimento dessa nova profissão", disse.
"Aparentemente, eles parecem estar preocupados com valores concretos conscientes da mente humana. Tudo o que vem no sentido de levar maior consciência ao homem tem de ser positivo." Para Aguiar, a nova profissão terá validade "se a intervenção desenvolvida por eles realmente tiver uma fundamentação científica".
(RF)

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