São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Presidente do Cade critica "xenofilia"

Oliveira contesta advogado que quer fim do órgão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Gesner Oliveira, inverteu o alvo de suas críticas.
Depois de condenar, há cerca de três semanas, a "xenofobia" dos conselheiros da entidade, Oliveira rebateu as críticas do advogado Celso Bastos, a quem atribuiu uma "xenofilia acrítica".
Xenofilia significa simpatia por pessoas e coisas estrangeiras (no caso, investimentos). Xenofobia é o sentimento contrário.
Bastos é o autor de um artigo publicado na Folha que defende a extinção do Cade. Segundo o advogado, a entidade cumpre hoje uma função "diametralmente oposta" às intenções do governo de atrair capital estrangeiro.
"Percebo sinais de xenofilia acrítica e eles são perigosos para a construção das instituições de uma economia moderna de mercado", afirmou Oliveira.
Na ferradura
O presidente do Cade considerou Bastos desinformado e disse que, ao contrário do que pensa o advogado, as instituições de defesa da concorrência estão ganhando espaço no mundo. "A integração regional aumenta a importância dessas entidades."
Mas o combate à xenofilia, afirmou, não representa uma revisão de suas opiniões.
Para ele, as críticas, tanto a um lado como a outro, pretendem mostrar que o Brasil precisa de uma política inteligente de integração competitiva na economia mundial.
"Não faz sentido ser xenófobo. Também não faz sentido acabar com as instituições nacionais porque existe a globalização", disse.
Oliveira fez as primeiras críticas aos conselheiros do Cade depois que a entidade decidiu permitir a sobrevivência da associação entre as cervejarias Brahma e Miller (norte-americana) por apenas 24 meses.
No cravo
Diante da decisão do conselho, ele disparou que "percebia sinais de xenofobia". Foi voto vencido.
A mesma decisão poderá ser estendida no próximo dia 9 à aliança entre a Antarctica e a também norte-americana Anheuser-Bush.
O julgamento foi adiado três vezes -na última, por habilidade do próprio Oliveira.
"O debate talvez traga uma proposta nova, que possa convergir as diferentes visões e ângulos da questão e oferecer uma solução melhor", afirma. "Eu mesmo posso mudar de opinião e aderir à maioria", disse.
Ele acredita que essas associações não trazem prejuízo para a economia brasileira.
O fato de Antarctica e Brahma já dominarem 90% do mercado brasileiro também não o preocupa. De acordo com Oliveira, o segmento é tipicamente concentrado, porque, para crescer, precisa de uma rede de distribuição grande e de produção em escala suficiente para atender todo o país.
"Essas associações introduzem marcas novas, aumentam a rivalidade entre as empresas e podem significar um meio de entrada de novos investidores no país."
O presidente da entidade considera que o Cade deve zelar pela defesa da concorrência, mas sempre evitar qualquer tipo de intromissão no processo de decisão das empresas. Segundo ele, o órgão deve descobrir uma espécie de limite entre a defesa da concorrência e a livre iniciativa.

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