São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
Próximo Texto | Índice

REFORMA NO 2º GRAU

O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, apresentou ontem arrojada proposta de reforma no ensino público de 2º grau. Formulada a título de sugestão para as redes estaduais, suas diretrizes parecem caminhar no sentido de uma flexibilidade da estrutura curricular do ensino médio no país, base para o acesso à profissionalização e à vida produtiva.
Pela proposta, pretende-se reforçar a praticidade dos ensinamentos de 2º grau, para facilitar a futura integração do estudante no mundo do trabalho. Sem desprezar a importância das matérias tradicionais (que ainda constituiriam uma base científica comum às três séries), pretende-se diminuir seu caráter acadêmico e vincular seus conteúdos a questões ligadas ao dia-a-dia dos alunos.
Ademais, seriam incluídas matérias optativas em 25% da grade curricular, que desenvolveriam, por exemplo, noções gerais de saúde, secretariado, contabilidade e administração. Por fim, alunos com mais de 18 anos (70% dos matriculados) cursariam módulos especiais que permitissem acelerar a conclusão do ciclo.
A proposta parece sensível às recentes alterações no mundo do trabalho e à crescente demanda por uma qualificação mais intensiva da mão-de-obra. E, no caso brasileiro, a elevada repetência no ensino médio -motivada, dentre outros fatores, pelo desinteresse do aluno e pela necessidade de contribuir para a renda familiar- tem sido um dos maiores empecilhos para uma integração mais qualificada na vida produtiva.
É de se questionar, porém, se os alunos da rede pública, com notórias defasagens de formação, conseguiriam fazer, com alguma segurança, opções profissionalizantes já nos primeiros anos do ensino médio. A má formação de boa parte de seus professores igualmente fomenta dúvidas quanto à exequibilidade da proposta. Por fim, idéias arrojadas quase sempre demandam novos recursos. E aqui, como se sabe, encontra-se o nó górdio de boa parte das políticas públicas sociais no Brasil.
Assim, entre a proposta, em tese defensável, e sua efetivação em todo o país, parece haver ainda um longo caminho a ser percorrido.

Próximo Texto: ATAQUE AO MERCOSUL
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.