São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Mordedor erra alvo

ADRIANA VIEIRA; DEBORAH GIANNINI
DA COSTELA

O problema mais grave de uma mordida na orelha é a infecção, que pode ser causada por bactérias da boca. "A cartilagem não tem circulação. A infecção a destrói, porque ela não tem defesa", diz o cirurgião-plástico Juarez Avelar.
Antes de reconstituir a orelha dilacerada, espera-se a cicatrização (cerca de um mês). Depois, trata-se da infecção. Se grande parte da cartilagem foi perdida, é retirada uma costela para substituí-la. "Em geral, pegamos a oitava ou nona costela do lado direito, porque é larga, comprida e fica longe dos pulmões, não oferecendo riscos", explica Avelar.
A costela é "esculpida" conforme o relevo da orelha, colocada no local e recoberta com a pele do pescoço.
Mas se o segmento de cartilagem necessário for pequeno, aproveita-se a cartilagem da outra orelha, como no caso de Holyfield.
Orelha com pinga
Sem embasamento científico, mas suficientemente furiosos, muitos agressores elegem a orelha como alvo preferencial para puxões, tapas e mordidas ferozes. Algumas vezes, descamba-se até para o canibalismo, em histórias dignas de Hannibal, the Cannibal, em "Silêncio dos Inocentes".
Segundo Juarez Avelar, cirurgião especialista em orelhas, são frequentes os casos que levam à reconstrução do órgão. "São de 10 a 20 pacientes por ano no Brasil", calcula ele.
Às vezes, o agressor é uma mulher e o motivo, ciúme. Em dezembro de 1992, em João Pessoa (PB), Maria de Lourdes ouviu seu marido, José Martins, receber um recado para encontrar-se com outra mulher, Creuza Ferreira da Costa.
Maria decidiu procurar Creuza, e as duas começaram a brigar. Depois de alguns socos, elas caíram no chão e Creuza arrancou a orelha de Maria com uma mordida.
Por recusar uma bebida, o motorista particular Vicente Antônio dos Santos teve sorte parecida, em São Vicente (SP), em agosto de 93.
Dois catadores de papel, Celso Brasílio Costa e Hélio da Silva, passeavam bêbados pela ponte pênsil quando encontraram Vicente. Por não querer beber com os catadores, o motorista teve a orelha direita arrancada, que foi degustada pelos catadores canibais, junto com a pinga recusada. Após recomendar ao chofer colocar pó de café no ferimento, os dois foram presos.
No mundo da classe média, agressões desse tipo também acontecem. Em novembro de 92, a discussão por um bom lugar para assistir ao show de Marina e Daniela Mercury, no Palace, terminou em uma orelha decepada.
Marcelo Orlandi, que estava na festa de final de ano de uma conhecida agência publicitária de São Paulo, entrou em uma briga com três homens por um lugar no camarote.
Dois homens o seguraram e um terceiro arrancou a sua orelha a dentadas por trás. A orelha, que foi colocada em um copo de drinque com gelo, foi reemplantada.
O estrago pode ser provocado ainda em um "castigo exagerado". Em 1990, L.A., 8, foi pego colando na prova de Estudos Sociais. Sua professora -da escola estadual Suzana de Campos, em Perus- agarrou a orelha dele e puxou tão forte que o levantou da cadeira.
Ao ver sangue no pescoço do menino, a professora lhe deu um pedaço de papel higiênico e pediu para que esperasse o final da aula. No PS de Perus, ele recebeu cinco pontos.

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