São Paulo, quarta-feira, 9 de julho de 1997
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FHC quer inaugurar obras na campanha

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que não vê "inconveniente" em que um governante que seja candidato à reeleição possa participar da inauguração de obras durante o período eleitoral.
"Essa (a possibilidade de participar das inaugurações) é uma questão menor. Se alguém que é candidato depender da inauguração de obras para ser reeleito, está perdido", afirmou ele, em entrevista dada por telefone, de Brasília, à rádio Jornal AM, de Recife (PE), levada ao ar ontem.
"Já passou a época em que para ganhar eleição se inauguravam obras sem parar. Hoje, quem fizer isso, vai perder", declarou o presidente à emissora pernambucana.
O presidente fez essas declarações ao comentar o projeto de lei destinado a regulamentar as próximas eleições, do qual o deputado federal Carlos Apolinário (PMDB-SP) é o relator.
Projeto
Um dos pontos do projeto proíbe que o candidato à reeleição participe de inaugurações de obras nos 90 dias anteriores às eleições. O projeto tem sido criticado por líderes do PFL e PSDB, partidos que integram a base política do governo no Congresso.
Fernando Henrique Cardoso disse confiar que o deputado Carlos Apolinário terá "bom senso" na elaboração do projeto da lei eleitoral.
Acrescentou que sua "única" preocupação com a matéria é que o projeto "tenha regras claras", que indiquem "o que pode e o que não pode".
"Porque, se não for assim, mesmo fazendo coisas legítimas, se não houver clareza de que elas são legítimas, a imprensa -em nome da opinião pública- vai acusar aquele que está no cargo de estar usando a máquina", disse o presidente.
Plebiscito
Ao comentar a proposta do ministro Sérgio Motta (Comunicações) de realização de um plebiscito para aprovar as reformas políticas, o presidente disse que "é uma boa sugestão, na condição de o Congresso aprovar".
O presidente ressaltou três vezes que, de acordo com a Constituição federal, é o Congresso Nacional que pode pedir o plebiscito e não o presidente da República.
E destacou ainda: "A sugestão (do plebiscito) não foi minha, foi dele (do ministro), como militante do PSDB", acrescentou.
A entrevista foi concedida anteontem durante o dia, antes de o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, divulgar, no começo da noite, declarações não endossando a proposta de Motta.
FHC afirmou na entrevista que as reformas políticas "não têm andado, nem na Câmara nem no Senado", mas que as demais "estão sendo feitas".
"Nunca se reformou tanto nesta República quanto nesta legislatura", afirmou FHC.
Entrevista
A entrevista do presidente durou 15 minutos. O presidente chegou a repreender um dos dois entrevistadores, a jornalista Graça Araújo.
Ela o interrompeu quando ele falava sobre reformas políticas, perguntando-lhe se considerava que estava governando da maneira que gostaria de governar.
"Não gosto de ser interrompido quando estou falando. Me desculpem, mas presidente é presidente", respondeu FHC.
Ouvida pela Agência Folha, Graça -que tem 13 anos de profissão- classificou de "arrogante" a reação do presidente.

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