São Paulo, quarta-feira, 9 de julho de 1997
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'Empresa do ano' tem segurança insatisfatória

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Só mesmo no Brasil. Baseada em critérios como rentabilidade, consistência no desempenho, competitividade e a "maneira destemida, transparente e eficaz como reagiu à tragédia do vôo 402", a revista "Exame" elegeu a TAM como "empresa do ano".
Pois nem bem a edição com o comandante Rolim na capa chegou às bancas, a ATA (Air Travellers Association), agência que avalia a segurança do transporte aéreo no mundo todo, divulgou um relatório em que a segurança da frota da TAM foi considerada "abaixo da crítica".
Entre as 32 companhias aéreas da América do Sul, a TAM aparece cotada em 23º lugar.
Tem mais: a ATA avaliou 260 companhias aéreas em 107 países. Só 29 foram desqualificadas. A TAM está entre elas.
Diz a "Exame" que pesquisas realizadas entre os passageiros da companhia aérea revelaram que o acidente com o Fokker-100, que resultou em 99 mortes, foi percebido pelos entrevistados como "fatalidade".
Marketing feito à base de tapetes vermelhos na porta dos aviões e sanduichinhos na área de embarque sempre foi o forte da TAM. Mas tapetes vermelhos e sorrisos na boca de comissários não foram levados em conta no relatório que avaliou a segurança da TAM. Nem servem para abafar as reclamações de seus pilotos.
Nos hangares espalhados por este Brasil varonil, eles costumam reclamar à boca mais do que pequena dos salários abaixo do nível do mercado e do tanto de horas extras que são forçados a cumprir.
Falam também da manutenção meia-boca dos aviões do comandante Rolim.
O laudo definitivo do acidente com o Fokker ainda não foi divulgado. Enquanto isso, moradores das residências atingidas pelo avião, inconformados com os valores estabelecidos pelo seguro, entraram na Justiça, e parentes das vítimas já falam em recorrer assim que sair o laudo definitivo.
Como se isso não bastasse, vem agora o relatório da ATA demonstrar que a "Exame" foi, no mínimo, insensível e precipitada ao eleger a TAM como a melhor empresa do ano.
Eu não ficarei nem um pouco surpresa se os técnicos concluírem que a causa do acidente com o Fokker da TAM foi erro do piloto ou defeito em uma peça não-original.
E, pelo resultado de seu relatório, a ATA também não.

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