São Paulo, quarta-feira, 9 de julho de 1997
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Otan aceita 3 países do Leste Europeu

CHRISTOPHER BELLAMY; ELIZABETH NASH
DO "THE INDEPENDENT", EM MADRI

Três países do ex-bloco soviético foram convidados a integrar a Otan a partir de 1999. O secretário-geral da aliança, Javier Solana, anunciou ontem à tarde a histórica decisão de convidar Polônia, Hungria e República Tcheca.
O anúncio, tido por Solana como "momento definidor", assinala a maior expansão de uma só vez nos 48 anos de história da aliança militar ocidental, liderada pelos EUA. Também representa uma afirmação irreversível de que a Otan ganhou a Guerra Fria.
A Eslovênia e a Romênia, cujas candidaturas tiveram o apoio de muitos países membros da Otan, não foram aprovadas desta vez, mas Solana fez uma menção especial a elas, ao lado dos países bálticos, após uma discussão longa e complexa com representantes da Otan para encontrar uma formulação aceitável para todos. Solana enfatizou que a porta da Otan permanece aberta a novos membros.
A decisão tomada ontem na cúpula de Madri significa que em 1999 três países com população de 60 milhões e forças armadas de 382 mil homens irão juntar-se à Otan, ampliando seu território em 14%.
A cúpula
Madri virou a "cidade da paz" por três dias, recebendo os chefes de governo dos 16 países membros da Otan, representantes dos países candidatos a membros e de países vizinhos, mais a leste.
O presidente russo, Boris Ieltsin, que continua se opondo à ampliação da Otan, apesar do Ato de Fundação da Cooperação Otan-Rússia, assinado no final do maio, fez questão de não estar presente.
Os aliados discutiram até o final sobre quem deveria ser convidado a ingressar na aliança. A maioria, liderada pela França, queria convidar cinco países, incluindo Eslovênia e Romênia. Mas os EUA, apoiados apenas pelo Reino Unido, optaram por apenas três.
Solução realista
O único obstáculo restante para o convite aos três países é sua ratificação pelos Parlamentos dos 16 países hoje membros da Otan.
Eles também terão medidas militares práticas a tomar, mas elas já estão encaminhadas. Novos membros devem ser aceitos por unanimidade. Quando eles aceitam o convite, é irreversível: não existe procedimento para expulsar um país da aliança.
Para o premiê britânico, Tony Blair, "é um arranjo sensato e realista. É claro que alguns países teriam gostado que fôssemos mais longe. Mas este não é um clube político. É uma aliança militar". A decisão de convidar apenas três novos membros desta vez foi uma decepção para a França e outros países mediterrâneos, mas eles acabaram por aceitá-la, em lugar de vetar a entrada dos três, que teria provocado uma ruptura irreparável na aliança.
O presidente Jacques Chirac declarou: "Estamos relativamente satisfeitos com a solução encontrada". E, desta vez, os defensores do convite a cinco novos membros obtiveram uma concessão significativa. Fontes da Otan informaram que está emergindo um "consenso acentuado" favorável ao equilíbrio de forças entre os EUA e os membros europeus.
Para o presidente Chirac, "a defesa européia pede um novo equilíbrio entre Europa e EUA no cerne da aliança, que até agora tem sido marcada por um desequilíbrio entre EUA e Europa no tocante ao processo decisório".
Na metade da manhã de ontem a principal discussão dizia respeito à formulação do texto da declaração, enfatizando o fato de que a Otan mantém suas portas abertas a novos membros. Os países favoráveis ao convite a cinco novos membros queriam que fosse incluída uma referência explícita ao progresso feito pela Eslovênia e Romênia no sentido de satisfazer as condições necessárias para seu ingresso na aliança.
Mas o Reino Unido e os EUA argumentaram que isso poderia ofender outros países, como os três estados bálticos, que também querem ingressar na Otan, e desencorajar outros Estados que ainda não se candidataram. Para eles, se algum tipo de garantia fosse dada à Eslovênia e Romênia, equivaleria a um convite direto.
No final, Javier Solana mencionou a Eslovênia, Romênia e os Estados bálticos. "Nenhuma democracia européia será excluída de consideração. De acordo com nossa promessa de manter uma porta aberta, devemos manter essa questão sob revisão contínua." Os próximos convites devem ser feitos na cúpula que vai marcar o 50º aniversário da Otan, em 1999, quando Polônia, Hungria e República Tcheca se tornam membros.
Os britânicos e americanos sentiram que aumentar o número de membros da aliança em cinco, ou seja, quase um terço, seria ir longe demais. Significaria ampliar a área e população da aliança em 20%.
A ampliação da Otan para incluir países do Leste Europeu foi recebida com violenta oposição por parte da Rússia, abrandada em parte pela assinatura do Ato de Fundação, em maio passado, que procura impedir o isolamento da Rússia.
Hoje a Otan assina acordo semelhante com Leonid Kuchma, presidente da Ucrânia. Desse modo, fortalece o complexo quebra-cabeças de dispositivos de segurança e fortalecimento da confiança.

LEIA MAIS sobre a Otan à pág. 1-14

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