São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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Desemprego em alta?

CELSO PINTO

Duas questões econômicas são decisivas para eleger ou derrotar um governo: inflação e desemprego. Como a inflação navega em céu de brigadeiro, as dúvidas ficam por conta do desemprego.
Até agora, o desemprego não trouxe insônia a Brasília. Por uma boa razão: mesmo com a retração econômica de 95 e a ampla reestruturação industrial, as taxas de desemprego aberto, medidas pelo IBGE, hoje, são apenas um pouco superiores às do período anterior ao Plano Real e estão entre as mais baixas do mundo, só comparáveis às do Japão e dos Estados Unidos.
Qual a garantia, no entanto, de que o Brasil não vai repetir a trajetória argentina e ver explodir o desemprego "estrutural", isto é, não explicável apenas pelas oscilações do ciclo econômico?
José Roberto Mendonça de Barros, secretário de Política Econômica da Fazenda, costuma lembrar que esse risco não existe porque, ao contrário da lenda, o mercado de trabalho brasileiro é muito flexível. Prova disso é a altíssima taxa de rotatividade de mão-de-obra e a crescente importância do mercado informal.
De fato, um trabalho recente do economista Gustavo Gonzaga, da PUC do Rio, mostra que a rotatividade brasileira é a mais alta do mundo, se medida pela porcentagem de trabalhadores há menos de dois anos no emprego. Enquanto no Brasil esse número chega a 47%, na Itália é de 13%; na Bélgica, 18%; na Alemanha, 21%; na França, 22%; na Holanda, 28% e, mesmo no paradigma do mercado de trabalho flexível, os Estados Unidos, ela é de 39%.
A rotatividade adapta o custo do trabalho, apesar da rigidez das leis trabalhistas, ajudando a conter o desemprego. Outro indicador citado por Gonzaga: entre 85 e 96, a cada mês sumiram 3% de empregos com carteira assinada, enquanto 3,1% de novos empregos foram criados. Foram 700 mil trabalhadores sendo demitidos e outros 700 mil sendo empregados a cada mês.
José Márcio Camargo, também da PUC do Rio, concorda, mas levanta algumas dúvidas sobre o futuro no boletim "Economia, Capital e Trabalho". Ele acha que a persistência de altos déficits nas contas externas pode agravar o desemprego. Por uma razão óbvia: os números mostram que, quanto maior tem sido o crescimento, menor é o desemprego, mas maior é o déficit comercial. Se for preciso conter o déficit reduzindo o crescimento, o desemprego vai subir.
Outro sinal preocupante: quando a economia decolou em 94, o desemprego caiu a 4% da força de trabalho. Quando voltou a decolar em 96, o PIB subiu acima do nível anterior, mas o ponto mais baixo do desemprego ficou em 5%. Além disso, no segundo ciclo de expansão, o desemprego caiu muito mais lentamente do que no primeiro.
Pode ser um indício de que o desemprego já ficou estruturalmente 1% maior. É cedo para conclusões definitivas, observa Camargo, mas vale o alerta.
Guerra dos cartões
O mercado de cartões de crédito no Brasil explodiu depois do Plano Real. O Credicard, que tem metade do mercado, tinha 5 milhões de cartões em 94 e hoje tem 8,5 milhões; seu faturamento pulou de US$ 4,3 bilhões para US$ 12 bilhões; o número de transações dobrou de 98 milhões para 200 milhões.
O American Express não aproveitou inteiramente a maré e hoje tem menos de 10% do mercado. Uma razão era a filosofia do grupo, desde a fundação, nos anos 50, de fazer tudo sozinho: emitir, operar e credenciar. A estratégia mudou há quatro anos, mas, no Brasil, só em setembro do ano passado foi assinado o primeiro contrato de operação com outro banco, o BCN. Há quatro semanas, foi assinado o segundo, com o Excel. O Credicard, em contraste, operava com dez bancos em 94 e hoje opera com 26.
Ao que tudo indica, o Amex vai para a ofensiva. Seu presidente mundial desde 93, Harvey Golub, veio nesta semana pela primeira vez ao Brasil. Anunciou que vai tentar abocanhar 20% do mercado brasileiro "em de três a cinco anos", pretende introduzir "em breve" cartões com crédito rotativo automático e quer associar-se com "dez a 15 grandes bancos brasileiros".
A briga é difícil, mas o prêmio é apetitoso. O Credicard, que lucrou R$ 330 milhões em 96, estima que o mercado brasileiro vai crescer 20% ao ano até a virada do século. Golub quer ampliar de 30% para 50% a parcela de negócios do Amex fora dos Estados Unidos. Para isso, os negócios internacionais terão de crescer "em média, de 25% a 30% ao ano". O grupo elegeu 25 países prioritários para chegar lá, entre eles o Brasil.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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