São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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Celulari passa de galã a conquistador

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

"O segredo de todo grande conquistador é saber dizer à sua presa não o que ela deseja ouvir, mas sim o que ela precisa ouvir."
É com essa filosofia que Edson Celulari traz a São Paulo hoje seu "Don Juan", peça de Molière, dirigida por Moacir Chaves, que foi um dos grandes sucessos da última temporada carioca.
Celulari usa o personagem-arquétipo do conquistador para dizer à sua platéia o que ele acha que ela tem de ouvir. "Antes de tudo, o don Juan de Molière é um transgressor. Ele desafia valores morais, éticos, religiosos. Don Juan tem um discurso sobre a hipocrisia que pode ser aplicado em qualquer lugar do Brasil, principalmente em Brasília. Escolhi esse texto porque é extremamente contemporâneo", afirmou o ator.
Sem deixar de lado o estigma de galã que as novelas lhe imprimiram -"Não tenho nada contra, procuro fazer esse trabalho bem-feito"-, Celulari afirma que deseja ir além, interpretar personagens fortes, como Calígula (que interpretou em 1991), Hipólito (de "Fedra", que fez ao lado de Fernanda Montenegro em 86) e don Juan (desejo que concretiza após cinco anos de planejamento).
Apesar de o texto trazer mais do que o mito sexual, esse lado não é esquecido, segundo Celulari. "O conquistador aparece em cena, as mulheres não vão se decepcionar. Mas Molière consegue fazer uma citação cômica do arquétipo. Ele escreveu com profundidade e requinte sem espantar o público, sua obra é popular."
A montagem de Moacir Chaves para "Don Juan" respeitou a íntegra do texto. "Foi uma opção do grupo, direcionada pelo Moacir. O mérito desse projeto é que ele tem caráter coletivo. Não é um projeto só para mim, isso seria pouco inteligente, já que a equipe é fantástica", disse Celulari, que também é produtor do espetáculo.
A equipe de "Don Juan" inclui o ator Cacá Carvalho no papel do criado de don Juan, Sganarelo (leia texto ao lado), e Daniela Thomas assinando a coreografia e os figurinos.
Para Celulari, apesar de don Juan ser um personagem forte, o texto foi poucas vezes montado. "Lembro-me de uma montagem do Fernando Peixoto no Teatro Oficina, na década de 70. A adaptação do texto foi feita pelo Zé Celso (Martinez Corrêa), e (Gianfrancesco) Guarnieri fez don Juan."
Na versão de Molière, don Juan é um subversivo que não aceita nenhum tipo de valor que vá contra seu próprio desejo. É, desta forma, "um rebelde em estado puro, individualista exacerbado que recusa a ordem e sente prazer maligno em corroer os valores", nas palavras do crítico teatral Sábato Magaldi.
"Ele não apenas usa seu poder de sedução, mas, acima de tudo, sua inteligência", disse Celulari.
Don Juan e Vadinho
Celulari finalizou anteontem a sua participação na minissérie "Dona Flor e Seus Dois Maridos", que deve ir ao ar, segundo ele, no segundo semestre deste ano, na Globo.
Ele interpreta o papel de Vadinho, o primeiro marido de Flor (Giulia Gam), que morre e volta à Terra para infernizar a vida da mulher quando ela se casa com um farmacêutico (Marco Nanini).
Celulari traça um paralelo entre os personagens don Juan e Vadinho: "Apesar de don Juan ter surgido do sombrio universo europeu, enquanto Vadinho nasceu sob o sol baiano, existe algo em comum entre eles. Don Juan desafia o céu e é punido por ele no fim, e Vadinho morre e vai para o céu, para depois voltar para sua mulher. O paralelo entre eles é o céu".

Peça: Don Juan
Autor: Molière
Tradução: Millôr Fernandes
Direção: Moacir Chaves
Cenários e figurinos: Daniela Thomas
Com: Edson Celulari, Cacá Carvalho, Gisele Fróes, Marcelo Escorei
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 15, centro, tel. 011/288-0136) Quando: estréia hoje, às 21h; de qui a sáb, às 21h; dom, às 18h Quanto: quinta: R$ 20 (platéia) e R$ 15 (balcão); sexta e domingo: R$ 25 e R$ 20; sábado: R$ 30 e R$ 25

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