São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 1997
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Suspeita de bomba no vôo 283 faz PF investigar vida de passageiro morto

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal está investigando a vida do empresário Fernando Caldeira de Moura Campos, 38, morto anteontem após explosão no vôo 283 da TAM que o jogou fora do avião, a 2.400 metros de altitude. Há suspeita de que ele possa ter relação com o artefato que, tudo indica, explodiu a bordo.
A Folha apurou que a PF está levantando o passado e as ligações recentes do empresário. Engenheiro eletrônico, ele trabalhou no CTA (Centro Tecnológico Aeroespacial) e na Embraer e era sócio de uma empresa de informática sediada em São José dos Campos (97 km a nordeste de São Paulo). O sócio de Campos, José Ronaldo Cantusio Abraão, diz que a suspeita sobre ele é absurda.
A Polícia Federal só está no caso porque não está descartada a possibilidade de a explosão ter sido criminosa -causada, por exemplo, por uma bomba intencionalmente levada a bordo. Pela lei, crimes em aviões devem ser investigados pela PF.
Outra possível causa para a explosão -que abriu um buraco de cerca de 2 metros por 1,30 metro no lado direito da fuselagem do Fokker-100- é ter havido defeito na estrutura do avião. A Aeronáutica trabalha com essa hipótese, mas a considera remota.
O Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), da Polícia Militar, detectou no local da explosão vestígios do que considera ser uma substância química explosiva, ainda não identificada.
O empresário Fernando Campos estava sentado na poltrona 18E no momento da explosão. Para o esquadrão antibombas do Gate, o material que explodiu estava a seu lado, sobre o assento da poltrona 18D, que foi apenas parcialmente destruído e estava afundado de cima para baixo.
No embarque, Campos tinha passagem marcada para a poltrona 7C, mas como havia pessoas de uma mesma família ocupando essa fileira, sentou-se no fundo do avião, onde não havia passageiros.
No inquérito do caso, a Polícia Federal ouviu ontem o professor Leonardo Castro, um dos passageiros que estava mais próximo de Campos quando houve a explosão.
O depoimento durou quase cinco horas e não teve seu conteúdo divulgado. À imprensa, Castro disse que não conhecia o empresário, que estava sentado cerca de quatro fileiras à frente dele e que não notou nada de anormal em seu comportamento durante o vôo.
Segundo Roberto Hobeika, gerente da TAM que levou Castro ao prédio da PF em São Paulo, ele foi a primeira testemunha ouvida por uma questão de praticidade.
Castro teve escoriações e problemas no tímpano e ficou internado no Pronto-Socorro Municipal do Jabaquara desde anteontem. Como é de outra cidade e seria mais difícil de localizar, foi levado para depor assim que deixou o hospital.
Castro disse estar com problemas de audição.
Hoje, os delegados Pedro Serzi Júnior e Leandro Coimbra, que presidem o inquérito, devem ouvir a comissária Luciana Crispim Silva. Segundo Serzi, a idéia é chamar mais passageiros e tripulantes do vôo 283 para depor.
Segundo sua assessoria de imprensa, a Polícia Federal também trabalha na perícia dos vestígios encontrados no avião, mas apenas colaborando com os técnicos da Aeronáutica.
A análise, que pode confirmar se a explosão foi de fato provocada por substância química e de que tipo de material se tratava, deve ser feita nos laboratórios do CTA.

LEIA MAIS nas págs. 3-2 a 3-6

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