São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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PF intima empresas envolvidas com Pitta

PATRICIA ZORZAN

PATRICIA ZORZAN; GABRIELA WOLTHERS
DA REPORTAGEM LOCAL

Proprietários das duas empresas terão de prestar esclarecimentos sobre o cheque de R$ 30 mil

GABRIELA WOLTHERS
A Polícia Federal, a pedido da CPI dos Precatórios, intimou ontem os donos da Comercial Distribuidora Photography Ltda. e da concessionária Autoglobal Automóveis Ltda. a prestar esclarecimentos sobre o Vectra comprado para a mulher do prefeito de São Paulo, Celso Pitta (PPB).
Uma equipe da PF esteve na sede das empresas e entregou a intimação a João Ribeiro da Silva, dono da Photography, e a uma funcionária da Autoglobal. No caso da concessionária, o documento deverá ser repassado ao representante legal da empresa.
Os depoimentos estão marcados para a próxima segunda-feira. A PF e a CPI querem descobrir o envolvimento das duas firmas na compra do carro.
A Receita Federal constatou que o carro comprado pelo prefeito, no dia 31 de maio de 1996, foi pago com um cheque de R$ 30 mil.
O custo total do automóvel, adquirido na Autoglobal, foi de R$ 35 mil. Os R$ 5.000 restantes foram pagos com um carro usado.
Pitta sempre afirmou que o veículo foi pago em dinheiro. Mas a Receita constatou que, no dia 31, a única entrada de R$ 30 mil na contabilidade da concessionária corresponde a um cheque do Bradesco da Photography.
O dono da empresa, João Ribeiro da Silva, afirmou à Folha que fez o depósito de R$ 30 mil na conta da concessionária, como parte de uma operação de "factoring" (empréstimo) junto a "Yasha".
Segundo a Folha apurou, Yasha Moghrabi é um conhecido doleiro de São Paulo. Com um escritório na rua General Jardim (centro), ele também opera com "factoring".
Na avaliação da PF e da CPI, a presença de Moghrabi na negociação indica que foram utilizados dólares na compra. A PF e a CPI trabalham com duas hipóteses:
1) Pitta, ou um representante, teria pago o Vectra em dólares, entregando US$ 30 mil à Autoglobal. Como a concessionária não pode registrar dólares em sua contabilidade, procurou o doleiro Moghrabi, que teria ficado com os dólares e pedido a Photography que depositasse o mesmo valor na conta da concessionária;
2) Pitta, ou alguém ligado ao prefeito, teria entregado os US$ 30 mil ao doleiro. Moghrabi teria pedido, então, que a Photography depositasse o mesmo valor na conta da concessionária.
Doleiro
O advogado de Yasha Moghrabi, José Roberto Leal de Carvalho, disse à Folha que seu cliente confirma ter realizado uma "operação financeira" com a Photography. Afirma que Moghrabi não conhece o prefeito, não fez negócio com a Autoglobal e nunca contribuiu com campanhas eleitorais.
O advogado não confirmou nem negou que seu cliente tenha pedido a Silva que fizesse um depósito na conta da Autoglobal. "Qualquer outro esclarecimento, ele prestará às autoridades, caso seja intimado", afirmou.
A PF não descarta a hipótese de convocá-lo. A maior preocupação da polícia é identificar a origem do dinheiro. A Folha apurou que, para comprovar a suposta operação de "factoring", a PF deverá solicitar aos envolvidos que apresentem toda a documentação do negócio.
O advogado de Moghrabi declarou ainda que seu cliente "não tem nada a esconder". "O envolvimento dele nessa história é um absurdo. Só nos interessa a verdade", afirmou.
Carvalho disse também que a Mármore Representações, empresa de seu cliente, executa trabalhos na área de "intermediação". "Ele vende e compra em vários ramos. O que puder intermediar, ele faz."
O dono da Photography também nega envolvimento com o caso. "Eu quero que o Moghrabi se dane. Se for culpado, que assuma. Eu não sou culpado", disse Silva.
Procurado pela Folha, o gerente da Autoglobal não foi localizado. Segundo seus funcionários, ele não retornaria à concessionária.

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