São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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Espectador apóia crime financeiro

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Responda rápido a essa pergunta formulada por Tony Ramos, anteontem à noite, na abertura do "Você Decide": "Você abriria mão de seus princípios em nome de uma vida melhor?"
Para espanto do diretor do programa, Herval Rossano, os telespectadores que telefonaram para a TV Globo não tiveram dúvidas em responder: "Sim".
O episódio, "Cobiça", colocava a secretária Natália (Françoise Forton) diante de uma oferta criminosa: assumir o papel de "laranja" numa conta "fantasma".
A proposta foi feita por seu chefe, o empresário Jair (Francisco Cuoco), dono de uma corretora de valores, envolvido numa fraude financeira, inspirada no escândalo dos precatórios.
Honesta até então, Natália é pressionada não apenas pelo chefe, mas também por seu marido, Luis Fernando (Guilherme Leme), que se diz ameaçado de morte por causa de dívidas contraídas numa mesa de jogo.
Os espectadores optaram entre três finais: 32.640 pessoas (ou 24,3%) disseram que Natália deveria denunciar o chefe, 36.502 (27,2%) acharam que a secretária deveria pedir demissão e silenciar sobre o esquema e 65.021 pessoas (48,5%) decidiram que Natália deveria "aproveitar a chance de melhorar de vida e entrar no esquema de Jair".
O total de ligações, 134.163, está dentro da média (em torno de 150 mil). A audiência na Grande São Paulo foi de 27 pontos (o equivalente a cerca de 2,2 milhões de espectadores), também dentro da média do programa.
Segundo Rossano, partiu de São Paulo o maior número, proporcionalmente, de ligações de pessoas favoráveis à entrada de Natália no esquema ilegal.
Para o senador Roberto Requião (PMDB-PR), relator da CPI dos Precatórios, o resultado mostra que "o povo perdeu a referência de moralidade".
Mas Requião também acha que os espectadores foram levados a optar pela solução criminosa: "O povo absolveu o estado de necessidade, a luta pela sobrevivência. Se ela (Natália) tomasse a atitude da denúncia, ela estaria colocando em risco a vida do marido e dos filhos", avalia.
A psicanalista Miriam Chnaiderman vê de forma mais crítica o resultado: "Isso é indício do desespero total, de uma falta de perspectiva absoluta. É um salve-se quem puder e mostra um estado de pânico generalizado".

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