São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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Governo quer facilitar uso da morfina

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Saúde está estudando uma forma que permita a hospitais fornecerem morfina a seus pacientes para que tomem o remédio em casa. Uma portaria da Vigilância Sanitária proíbe que esse tipo de droga seja utilizada fora do hospital.
A restrição, além de dificultar a vida do doente, reduz ainda mais o uso desse tipo de sedativo, considerado o mais eficaz no controle de dores intensas. A morfina e seus derivados -opióides e opiáceos- são controlados porque podem criar dependência.
Cerca de 3.000 hospitais deverão ser autorizados a fornecer a droga. A medida é uma forma de contrabalançar a resistência das farmácias que, por causa do controle e baixo custo do remédio, preferem não vender a morfina. Segundo a Vigilância Sanitária, menos de cem farmácias em todo o país têm o remédio. E o estoque, por lei, está limitado a três ampolas.
A decisão do Ministério da Saúde de facilitar o uso da morfina seria uma resposta às críticas feitas ao irrisório uso dessa droga no país.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil estaria entre os países onde os pacientes mais sentem dores por causa do baixo consumo de morfina.
Um documento enviado pela Associação Médica Brasileira (AMB) ao Ministério da Saúde atribui o pouco uso da morfina à desinformação dos profissionais de saúde e ao desinteresse das instituições médicas e farmácias. Para mudar esse quadro, a AMB está propondo um Programa de Educação em Dor para ser implantado, com urgência, em todo o país.
A Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor também defende mudanças no currículo das escolas médicas. "Todos os alunos da área de saúde devem aprender os cuidados com a dor", diz Lino Lemonica, presidente da sociedade.
Lemonica diz que os órgãos públicos poderiam facilitar o uso da morfina, sem diminuir o controle. No geral, eles têm mais dificultado que facilitado. Segundo o médico, uma greve da Polícia Federal -que controla a entrada da droga- reduziu a quase nada a importação da morfina anos atrás.
Ontem, em São Paulo, a Furp (Fundação para o Remédio Popular) informou que passará a fabricar o sulfato de morfina em três formulações. "Esperamos que a promessa seja cumprida", disse João Ernesto Figueiró, médico que coordena o programa da AMB.

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