São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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Dilbert

PEDRO CIRNE DE ALBUQUERQUE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O cartunista norte-americano Scott Adams -o homem que ganhou fama mundial ao ridicularizar em seus desenhos a busca das empresas pela competitividade e eficiência- volta a destilar ironia e humor no livro "Corra, o Controle de Qualidade Vem Aí!", lançado agora no Brasil pela Ediouro.
O livro, o segundo de Adams lançado aqui, é uma coletânea de suas tiras, que aparecem diariamente na página de quadrinhos da Ilustrada (o Brasil é um dos 39 países que publicam seus trabalhos), centradas no engenheiro Dilbert.
Além dele, povoam as histórias de Adams personagens como o ambicioso (e esperto) cão Dogbert, o carente rato Ratbert e o dinossauro bobo Bob, além dos claustrofóbicos e incompetentes engenheiros que trabalham com Dilbert.
Sobre as origens de seu personagem principal, Adams disse que "Dilbert é um composto de meus colegas de trabalho de vários anos. Com o tempo, acabou virando o personagem principal dos meus rabiscos. Comecei a usá-lo em apresentações em empresas e as reações foram ótimas. Um colega sugeriu o nome dele". Leia a seguir trechos da entrevista.
*
Folha - Quando o sr. começou a desenhar histórias em quadrinhos, quais eram os personagens?
Scott Adams - Os personagens eram os mesmos de hoje, só que eu os desenhava um pouco diferentemente. Alguns evoluíram com o passar do tempo, adquirindo mais personalidade. No início, os principais eram Dilbert e Dogbert. Mais tarde, foram surgindo mais situações no escritório.
Folha - O que o sr. tem em comum com seus personagens?
Adams - Tenho a habilidade social do Dilbert, sua história de trabalho e seu sucesso nos namoros. Tenho o desejo de dominar o mundo de Dogbert e o otimismo injustificado de Ratbert.
Folha - E o que é diferente?
Adams - Faço mais exercícios do que Dilbert, estou mais em forma que ele.
Folha - O que transformou "Dilbert" em sucesso mundial? O que as pessoas querem encontrar nas histórias em quadrinhos?
Adams - As pessoas parecem reagir aos temas do poder e da falta dele. Elas se identificam com a frustração de não terem meios de modificar ou escapar de uma situação frustrante.
Folha - O que o sr. sabe sobre os quadrinhos brasileiros?
Adams - Não sei nada. Eu não saio muito.
Folha - O sr. já veio ao Brasil? Dilbert é muito popular por aqui.
Adams - Tudo que sei sobre o Brasil é o que ouço da boca de outros brasileiros: lindas mulheres, economia florescente, ótimo gosto em matéria de quadrinhos americanos.
Folha - Quais são suas principais influências quando o sr. escreve e desenha livros de quadrinhos?
Adams - Faço um pouquinho de tudo, como ir ao cinema, ao teatro e ouvir música. É bom ter muitos estímulos quando você quer criar coisas novas (que normalmente são combinações de coisas já existentes). A maioria de minhas idéias vem pelo e-mail. Folha - Suas tiras apontam para algumas características negativas das pessoas, como a hipocrisia, a falta de interesse pelo próximo e problemas de comunicação. O sr. acha que esses estão entre os piores problemas da humanidade?
Adams - Eu me concentro nos problemas mais engraçados, não nos piores. Os mais engraçados são aqueles dos quais todos nós somos culpados. Os piores são os problemas dos quais apenas uma pequena porcentagem da população é culpada.
Folha - E o que de bom o sr. mostra nos seus quadrinhos?
Adams - Dilbert é muito instruído e lógico (na maior parte do tempo). E costuma ter comportamento ético e bondoso. Dogbert é muito leal a Dilbert, apesar das aparências, e Dilbert a ele.
Folha - Por que o sr. escreve?
Adams - É um trabalho divertido, só isso. Faço pelo dinheiro. Acontece, simplesmente, que as coisas que me incomodam, e também me inspiram, são coisas que também incomodam outras pessoas. Então as pessoas se beneficiam secundariamente da tira, se ela expressa seus sentimentos. Mas isso é um resultado, não minha motivação.
Folha - Como anda sua página na Internet?
Adams - A página na Web,"Dilbert Zone", é um dos sites de entretenimento mais visitados no mundo. As pessoas adoram receber alguma coisa de graça.
Folha - É verdade que existe uma possibilidade de Dilbert e companhia irem à TV? O senhor não teme que exposição demais possa enfraquecer o personagem?
Adams - Não temos acordo para nenhum programa de TV, mas há muito interesse nisso. Estamos estudando as opções. Os projetos de TV são sempre incertos. Até se concretizarem.

Livro: Corra, o Controle de Qualidade Vem Aí!
Autor: Scott Adams
Lançamento: Ediouro
Quanto: R$ 20 (224 págs.)

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