São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Abertura de mercado atrai imigrante 'rico'

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos estrangeiros que compõem a nova onda de imigração para o Brasil vem de países ricos, traz família, se instala em São Paulo e Rio e tem mais de 30 anos.
Os números recentes são muito superiores aos constatados na década de 70, quando o chamado "milagre" brasileiro, atraiu capital e profissionais estrangeiros para o país. Entre 1970 e 1975, por exemplo, a média de imigrantes legais foi de 6.074.
No ano passado, 17.178 estrangeiros vieram trabalhar legalmente no mercado brasileiro, um contingente mais de três vezes o total registrado em 1993, 5.256, segundo o Ministério do Trabalho.
Neste ano, o ritmo de chegada desses novos imigrantes continua acelerado. Até junho, mais 8.000 entraram no país com visto de trabalho, segundo estimativa de Léo Frederico Cinelli, coordenador-geral de imigração do Ministério do Trabalho.
Apesar do aumento na entrada de estrangeiros no país, o Brasil continua mandando para fora um número maior de pessoas do que recebe, uma tendência iniciada em meados da década de 80.
Além de comporem um grupo maior, os estrangeiros que estão chegando têm um perfil diferente dos grandes grupos de imigrantes que o Brasil recebeu principalmente entre 1870 e 1930, período durante o qual se calcula que entre 5 e 7 milhões entraram no país, a grande maioria camponeses que vieram trabalhar na agricultura.
Hoje, grande número dos novos imigrantes carrega diplomas universitários e de especializações em novas tecnologias ou é dirigente de empresas que investem no Brasil.
O perfil dos estrangeiros no mercado brasileiro já vinha mudando desde os anos 50, com maior presença de técnicos e graduados em universidades.
Isso aconteceu, em parte, porque o governo adotou critérios mais severos para imigração na década de 70, diz Luis Olavo Baptista, professor da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo).
Mas o chamado processo de globalização dos anos 90 acentuou fortemente essa tendência, com a chegada ao país de mais empresas e bancos do exterior.
Desestatização
Também tem influenciado muito a sequência de privatizações feitas nos últimos anos.
Só a privatização da Cerj (Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro), em novembro do ano passado, significou a vinda para o Brasil de 33 estrangeiros, diz Jose Luiz Echnique, gerente de relações corporativas, ele mesmo chileno.
A Cerj foi comprada por um consórcio formado por grupos de três países que enviaram ao Rio, já na semana seguinte ao fechamento do negócio, economistas e engenheiros, a maioria com idade entre 28 e 35 anos.
A chegada dos novos imigrantes, em geral recebendo salários altos, provoca, por sua vez, o congestionamento de mudanças do exterior para o Brasil nas transportadoras e filas de espera em escolas estrangeiras em São Paulo e no Rio.
À margem dessa tendência, continua o fluxo de estrangeiros que entram ilegalmente no país.
Nos últimos anos, a maioria dos clandestinos veio da Bolívia, não tem qualificação profissional e sobrevive em subempregos.
Nem todos os estrangeiros que entraram no Brasil nos últimos anos ficarão morando no país definitivamente. Mas, como observa Teresa Salles, professora da Unicamp (Universidade de Campinas) e especialista no assunto, "ninguém vai para outro país para ficar para sempre porque essa é uma decisão muito drástica. Acontece que muitos acabam ficando."

Texto Anterior: Hormônios oferecem risco para gado; Concurso para jovem cientista faz 40 anos; Viagem de negócios pode causar distúrbios; Livro ensina a dormir sem dificuldades; Unimed reelege presidente; Tosse provocada por remédio tem controle; Motorista idoso deve evitar tranquilizantes
Próximo Texto: 1,8 milhão de brasileiros já saiu do país
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.