São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 1997
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Indústria de queijo aposta em reversão

CLAUDIA GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do governo de proibir, em março passado, o pagamento parcelado dos produtos importados financiados em menos de 360 dias e o crescimento da produção brasileira de queijo estão reduzindo as importações do produto.
A Abiq (Associação Brasileira das Indústrias de Queijo) prevê que até 2002 o país passará de importador a exportador de queijo.
Os fabricantes não precisarão investir nas indústrias e em maquinário, pois a capacidade ociosa das fábricas é de 20%.
Durante a entressafra -de maio a setembro, quando o gado produz menos leite devido à falta de alimento, porque há diminuição da pastagem natural e poucos produtores têm recursos para investir em silagem de alimentos- a capacidade ociosa de algumas fábricas de queijo chega a 50%.
"Se o consumo de queijo no Brasil continuar subindo 3% ao ano e se a produção de leite mantiver o ritmo de crescimento atual, de 6%, daqui cinco anos não precisaremos mais importar queijo", diz Fábio Scarcelli, vice-presidente da Abiq e presidente da Federação Pan-americana de Leite, a Fepali.
O principal desafio é fazer com que os produtores de leite se profissionalizem para que o país possa ter oferta uniforme da matéria-prima durante todo o ano.
Para que isso ocorra, alguns fabricantes de queijo já estão criando formas de incentivar o crescimento da produção leiteira.
Assistência tecnológica
A Teixeira estuda um projeto que visa dar assistência tecnológica aos produtores de leite.
"Queremos ajudar na melhora genética do rebanho e orientar a alimentação do gado para que a diferença entre a quantidade e a qualidade do leite produzido durante a safra e a entressafra seja reduzida", diz Solon Teixeira de Rezende Júnior, diretor da Teixeira e diretor de marketing da Abiq.
No Brasil, a produtividade média de uma fazenda é de 80 litros por dia. No Uruguai, o número sobe para 500 litros/dia e na Argentina fica em 1.000 litros/dia.
Além disso, durante a entressafra, uma fazenda brasileira produz 50 litros/dia, 70 litros a menos do que durante a safra.
Outra que aposta no produtor de leite para fazer crescer sua produção de queijo é a Alvarão.
Desde 96, a fábrica está premiando os produtores que fornecem leite em maior quantidade e com mais qualidade (teor de proteínas alto e menos bactérias).
A São Vito orienta a reprodução genética do gado e financia a silagem de alimentos para haver leite o ano todo. Na entressafra, a capacidade ociosa da empresa chega a 50% -na safra, cai para 20%.
Outro obstáculo à expansão do volume de queijo fabricado no país é o preço da matéria-prima.
Segundo Flavio Burri, da São Vito, no Uruguai o litro de leite custa US$ 0,15. No Brasil, US$ 0,25. Em alguns Estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os produtores já conseguem vender o leite a US$ 0,18 o litro.
Quando se fala em produção diária por animal a desvantagem fica ainda maior para o lado brasileiro.
"O Brasil tem produção de leite por animal das mais baixas. Aqui, uma vaca dá 3 litros por dia, enquanto que em outros países a média vai de 18 litros a 30 litros. Na Argentina, uma vaca produz 15 litros de leite/dia", diz Burri.
Uma das principais causas da ineficiência produtiva do gado nacional é a pobreza genética.
"No Brasil, boa parte do gado leiteiro é da raça zebu, que não é específica para dar leite e sim para corte", afirma Solon Teixeira de Rezende Júnior, da Teixeira.
Preços europeus
Para Scarcelli, o preço do queijo no Brasil não é alto se comparado aos preços de outros países.
"Na Europa, o preço médio por quilo de queijo é US$ 7, US$ 8. Aqui, fica em US$ 6 ou US$ 8."
Outra questão ressaltada por Scarcelli é a falta de hábito de consumir o produto no país.
Se na França e na Argentina o consumo anual de queijo por habitante é de 18 kg e 8 kg, respectivamente, no Brasil gira em torno dos 3 kg/ano.

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