São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 1997
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Gal relê Gal entre urubus e aviões

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1968, bêbada de juventude, Gal Costa se deixou seduzir pela vanguarda e virou musa do tropicalismo. O movimento -que extraía imagens poéticas de aviões sobre a cabeça e urubus entre girassóis- propunha a internacionalização da MPB (e do país).
Hoje, com 51 anos, Gal está se preparando para gravar um "Acústico" na planetária MTV. Globalizou-se, mas continua de olho em urubus e aviões.
Desde maio, encabeça uma campanha inusitada no Rio. O alvo é o aterro sanitário que fica perto do aeroporto do Galeão.
A cantora quer desativá-lo. Teme que os urubus do lixão invadam as turbinas dos aviões e os derrubem.
Calcula que já amealhou para a cruzada mil assinaturas, incluindo as de Caetano Veloso, João Bosco e Milton Nascimento.
Tentou, recentemente, conversar sobre o assunto com o governador Marcello Alencar. "Marcamos três encontros, mas ele cancelou todos. Para mim, agora, chega. Vou até certo ponto, depois..."
Gal já esteve, ela mesma, num Boeing que abortou a decolagem por sugar um urubu. Mesmo assim, acha que não legisla em causa própria. "O problema é sério. Ameaça a aviação e a saúde pública, porque o aterro traz doenças à população daquela área."
Se mantém um olho nos aviões, resguarda o outro para os jovens. Com o "Acústico" que grava quinta-feira, às 21h, no Memorial da América Latina (SP), pretende não só revisar a carreira de 30 anos, mas principalmente chegar "à garotada".
A MTV exibirá o programa em setembro. Vai transformá-lo, como de praxe, num CD.
O disco -da BMG- deverá ter 18 canções, todas com arranjo de Wagner Tiso.
Acompanharão a cantora uma orquestra de 36 músicos e um time eclético de convidados: Frejat, Herbert Vianna, Tony Garrido, Mestre Ambrósio e, ainda dependendo de confirmação, o saxofonista norte-americano Kenny G.
É o primeiro disco solo ao vivo da artista desde o célebre "Fatal", de 1971. O repertório priorizará canções daquela década e dos anos 60 (veja quadro à esq.).
"Quem gostava de mim na época? Os vanguardas, os malucos, os loucos. Os caretas gostavam de Bethânia. Mas, com o tempo, meu público se modificou. Eu mesma mudei o jeito de me vestir. Hoje sou uma cantora de quem todo mundo gosta. Então, é legal recuperar o passado para os jovens. Mostrar: olha, tenho história."
"Pois é, rapaz, esqueci. Mas ainda está em tempo de a gente se reencontrar. Ele até me trata por madrinha", disse a cantora na semana passada, durante entrevista à Folha, em um hotel cinco estrelas de São Paulo.
Pediu licença, sacou o celular e discou para o produtor Mazzola: "Se o Kenny G não vier, convide o Melodia".
Com o programa, Gal deseja homenagear sobretudo "a adolescente" que ainda considera ser.
"Continuo corajosa como os jovens, embora mais técnica e segura." Corajosa também significa sem medo das novas cantoras.
"No dia em que me sentir ameaçada por quem está chegando penduro a chuteira. Minha geração é imbatível, cara. Nós somos foda. Pode escrever -com maiúscula."

LEIA MAIS sobre Gal à pág. 5-5

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