São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 1997
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Ator usa maconha como matéria-prima

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

Assim como o personagem que o consagrou no filme "O Povo Contra Larry Flynt", o ator Woody Harrelson também está ligado a atividades ilegais no Kentucky.
No filme, trata-se de um alambique quando Flynt ainda era uma criança.
Na vida real, Harrelson está investindo numa nova marca de produtos feitos à base de maconha plantada por uma cooperativa no Kentucky.
A primeira loja da sociedade entre Woody Harrelson e seu advogado Dave Frankel abriu as portas há pouco mais de dois finais de semana, na cidade de San Francisco, Costa Oeste dos Estados Unidos.
Os produtos
Instalada numa casa de madeira na badalada 24th Street em Noe Valley, a Frankel Brothers Hemp Outfitters vende camisetas, mochilas, bonés e chaveiros.
"Tudo é feito à base de uma maconha que nem é considerada droga, pois não tem princípio ativo", diz o ator.
"As plantas crescem num sistema estável e auto-sustentável e isso é o mais importante", afirma Woody.
"A cada dólar que gastamos com produtos orgânicos ou à base de maconha, estamos evitando que uma máquina destrua o planeta", completa o ator, que promoveu a inauguração da Frankel Brothers Hemp Outfitters liderando uma aula de ioga.
Os 15 alunos que ganharam ingressos para o evento por intermédio de um sorteio numa rádio local esperaram impacientes por Harrelson, que se atrasou cerca de 45 minutos.
A aula durou uma hora. Harrelson é instrutor certificado e pratica yoga para relaxar. "Principalmente enquanto estou filmando, longe de casa", afirma.
Campanha
Harrelson e Frankel se conheceram durante a campanha pela legalização da maconha, na qual ambos continuam envolvidos.
Frankel trabalha atualmente como advogado de Harrelson, que está sendo processado por plantar maconha no Kentucky no início deste ano.
A maioria das roupas que são vendidas na Frankel Brothers Hemp Outfitters são feitas com tecidos importados do Canadá e China, já que o plantio de maconha continua ilegal para tais fins nos Estados Unidos.
"Eu não acho que ser famoso deva servir apenas para conseguir entrar nos restaurantes sem fila", diz Harrelson. "Acredito nas causas que defendo".
Além da legalização da maconha, ele luta pela preservação das florestas de "redwoods", as milenares árvores gigantes espalhadas pela Califórnia.
Também é contra o consumo exagerado de laticínios e falou à reportagem da Folha vestindo uma camiseta com uma vaca de cabeça para baixo estampada no peito e bebendo uma vitamina à base de frutas e leite de soja.
"Acho que todos nos reconhecemos olhando ao redor que o homem está fora de balanço com o meio ambiente", diz.
"Assim como a indústria de tabaco tem que pagar as pessoas por destruir seus pulmões, a indústria petroquímica deveria pagar por destruir o planeta."
"Todos nós sabemos que o que está em sintonia com a natureza é legal e o que não está em sintonia com a natureza não é legal", completa Frankel. "É essa a filosofia que usamos na loja e também nas nossas vidas."
"Se algum objeto pode ser feito à base de maconha, não há motivo para fazê-lo de plástico ou qualquer outro material que destrói o meio ambiente e deixa resquícios na água ou no solo", afirma Harrelson.
"Se pegassem o dinheiro usado para subsidiar a indústria madeireira, petroquímica ou nuclear e usassem em produtos à base de maconha, voltaríamos à vida pura da agricultura, que é onde todos começamos", afirma o ator, apontando para o chaveiro feito de maconha em que guarda as chaves da nova loja.

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