São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 1997 |
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Livro 'julga' versão cinematográfica de "O Que é Isso..."
MARCELO RUBENS PAIVA
O que está em julgamento é a versão de Bruno Barreto, diretor do filme, sobre um dos momentos mais dramáticos da história recente: o sequestro, em 1969, do embaixador norte-americano Charles Elbrick. Numa ação bastante ousada e de discutida oportunidade, militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional) e da Dissidência Comunista da Guanabara (depois MR-8, Movimento Revolucionário 8 de Outubro) sequestraram o embaixador para, entre outras coisas, exigir a soltura de 15 militantes. "Versões e Ficções" reúne artigos e ensaios publicados em revistas e jornais de autores que contestam a versão ou questionam a pretensa isenção (e "desideologização") do filme "O Que É Isso, Companheiro?". Entre os autores, alguns participaram direta ou indiretamente da ação, como Franklin Martins, Vera Sílvia Magalhães (entrevistada por Helena Salem) e Daniel Aarão Reis Filho. Outros textos foram escritos para o livro, como os de Marcelo Ridente e Daniel Aarão. Contestam-se detalhes da operação (não foi Gabeira quem redigiu o manifesto nem idealizou a ação), critica-se a imagem de "aventurismo" que o filme passa e a construção dos personagens, especialmente de Jonas (baseado em Virgílio Gomes da Silva, comandante da ação) e de um torturador em crise de consciência. A qualidade do livro é que, ao juntar o quebra-cabeça, consegue ter uma visão bem próxima do que realmente aconteceu, especialmente devido aos depoimentos dos ex-militantes. Conhecemos um pouco mais sobre Virgílio Gomes da Silva, quem foi e como morreu; o ponto alto do livro é o surpreendente e inédito depoimento do jornalista Celso Horta, que testemunhou a passagem de Virgílio pelo cárcere da Operação Bandeirantes. Mas a impressão que se tem é que uma turma, que se sentiu ofendida com o filme, resolveu se reunir, escrever, contestar e emprestar artigos já publicados que fortaleçam suas opiniões (versões). Para isso, muita tinta é gasta para desqualificar Gabeira e Barreto. Segundo texto de abertura de Ridente, professor-assistente da Unesp, Gabeira, jornalista ligado ao "segundo escalão" do MR-8, "estava" na casa onde ficou o embaixador. "Ele (Gabeira) só soube o que ia acontecer no dia da ação", disse Daniel Aarão, que foi do Comitê Central da Dissidência. "Gabeira foi um personagem lateral e ocasional", escreveu Emir Sader, professor da USP. Tal insistência irrita. Qualquer leitor percebe que o militante, em cuja casa ficou o embaixador, que esteve durante os dias da ação dentro da casa e que levava os manifestos para fora não era ocasional ou de "segundo escalão". Por que Gabeira exaspera alguns de seus antigos companheiros é tema oculto no livro. E, pensando bem, há mesmo dúvidas se o leitor se interessa por intrigas caseiras. César Benjamim, também ex-militante da Dissidência, escreveu, sobre o filme: "Queriam polêmica em torno dessa versão, pois polêmica vende. Com dinheiro e competência, contratando bons profissionais, semearam discussões imaginárias sobre maniqueísmo, ficção, realidade, liberdade, esquerda, patrulhamento." No texto de encerramento, Daniel Aarão escreve, satisfeito, que os produtores do filme esperavam 1 milhão de espectadores, mas alcançaram, até meados de junho, pouco mais de 200 mil. "O bolo deste filme parece ter solado. O pessoal caprichou demais. Querendo seduzir, saturaram", escreveu. Para alguns dos autores, o filme macula o "movimento", pois quer faturar na bilheteria. Frustra-se quem espera encontrar um debate aprofundado sobre a validade de "ficcionar" a história, ou sobre o nascimento de versões antagônicas sobre um mesmo fato. Por vezes, o livro se assemelha a mais um panfleto em defesa dos que "resistiram à ditadura". O quê: lançamento de "Versões e Ficções: O Sequestro da História" com presença de alguns dos autores (a editora não confirmou os nomes) Quando: hoje, a partir das 18h30 Onde: Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 285-4033) Texto Anterior: 'O Vento Não Levou' estréia hoje na Jornada Sesc Índice |
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