São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 1997
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Até prova em contrário

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - A área militar acompanha com ansiedade, até uma certa apreensão, o desenrolar das investigações sobre a explosão do avião da TAM.
Para nós, meros mortais, é sempre conveniente imaginar as possibilidades mais óbvias. Por exemplo, que bomba é coisa do Oriente Médio, não do nosso Brasil de encantos mis.
Entretanto, para gente treinada em investigar a fundo, cientificamente, é obrigatório considerar mesmo as hipóteses menos prováveis, até que elas sejam definitivamente descartadas.
No caso da TAM, já há uma certeza: foi uma explosão. No jargão dos oficiais da área de prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos, uma "agressão radial".
Isso significa que um dispositivo explodiu na cadeira 18D, deslocando o ar com uma força descomunal e com a mesma intensidade em todas as direções, a partir do epicentro.
A expectativa, agora, é em relação a duas questões ainda não respondidas pela polícia: que tipo de nitrato havia no avião e na roupa da única vítima, e se a explosão foi acidental ou intencional.
Só depois dessas duas respostas os oficiais de prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos poderão assumir a sua parte. A eles caberá dizer se o equipamento resistiu adequadamente à qualidade e à intensidade do impacto; se o piloto e o co-piloto tomaram todas as decisões corretas; se o resto da tripulação manteve o controle da situação.
Até lá, vale lembrar que nos últimos 60 dias foram registradas pelo menos duas denúncias de explosivos a bordo de aviões brasileiros. Uma foi numa escala em Belém do vôo 267 da Varig. Outra foi num avião da Vasp que fazia conexão em Brasília e carregava, na cabine de passageiros, um tipo de nitroglicerina aparentemente de uso farmacêutico.
Os setores de inteligência estão acompanhando de perto as investigações no jato da TAM em São Paulo. O governo acha, sim, que pode ter sido uma bomba.
Nessas horas, dizem os manuais e o bom senso, é melhor pecar pelo exagero do que pela omissão.

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