São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
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Milton retorna às suas origens em Minas

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de enfrentar uma doença que quase o matou, Milton Nascimento se sente mais próximo de Deus e dos seus.
Ele faz amanhã, na casa Tom Brasil, a estréia mundial do espetáculo "Tambores de Minas", um show em que volta às origens e enaltece Minas Gerais. É o show que, segundo ele, pretendia fazer havia 30 anos.
Com "Tambores de Minas", Milton também empreende uma viagem de volta ao Brasil. Ele, que nos últimos anos, se dedicou mais à carreira internacional, quer inverter a mão.
"Tenho saudades daqui. Tenho vontade de ver o povo cantando, passar na rua e as pessoas dizerem que me amam. Ser feliz em casa", sorri.
Instado a definir o que o público vai encontrar no show, Milton não titubeia. A mensagem que ele quer passar é simples: "Ói nóis aqui traveiz", diz, mineiramente.
"Sou um ator"
Proclamando a importância de "Tambores de Minas" dentro de sua carreira, Milton afirma que vê o show como um degrau pessoal. Não só. "Ele vai abrir caminho para para outros artistas pensarem quando forem subir em um palco", diz.
Não por acaso, o espetáculo também marca a parceria de Milton com o diretor teatral Gabriel Vilella, que assina a cenografia e a direção cenográfica. Juntos, eles gestam "Tambores de Minas" há sete meses.
"Nunca pensam em Minas com tendo tambor. Nós trouxemos os tambores das festas de rua para a frente do palco", diz Milton. Com isso, ele transformou os nove acrobatas que vão participar do show em percussionistas e cantores que acompanharão a banda.
O show com 22 músicas reúne diversos elementos mineiros, como a folia de reis, os profetas de Aleijadinho -tudo sob a batuta de Vilella, que vê em Milton um grande ator.
"Eu me sinto feliz de ser tratado como um ator, porque, no fundo, eu sou um ator", diz Milton, que revela ter o sonho de atuar no cinema, sua grande paixão.
"Passei fome e frio"
Milton escolheu São Paulo para fazer a estréia mundial do novo show. Uma cidade -ele é o primeiro a admitir- que sempre lhe proporcionou emoções fortes. É onde mora, por exemplo, seu filho, Pablo.
"São Paulo já me deu todos os tipos de confusões que podem acontecer na cabeça de uma pessoa. Foi naquele período de vacas extremamente sem carnes. Passei frio, passei fome, passei tudo. Quando fui para o Rio, para participar de um festival, jurei que nunca mais punha o pé em São Paulo", conta ele.
Para sorte de seus fãs, ele não cumpriu a promessa. E, hoje, reconhece: "É a cidade que melhor acolhe todos os tipos de arte".
Super-relax
Bem-disposto, Milton se diz feliz com seus 60 kg distribuídos por 1,71 metro. Ele enfrenta a diabete tipo 2 com remédios e malhação. "Tô super relax", diz.
Ele reclama de parte da imprensa, que espalhou, na virada do ano, o boato de que ele estaria com Aids. "Tempos atrás eu estaria mais fragilizado. Estou mais forte por causa das manifestações de amor que eu tive do mundo inteiro, especialmente do Brasil. Não deu tempo de ficar triste."
Essas provações também alteraram sua religiosidade. "Eu me sinto mais próximo de Deus, ou das outras entidades das outras religiões."
A doença ajudou a mudar suas relações com o mundo. "Tive plena certeza de que nada vai me derrubar. Existe uma proteção por trás de mim, de amor, de Deus, que me dá uma força muito grande", avalia.

Show: Tambores de Minas
Artista: Milton Nascimento
Onde: Tom Brasil (r. da Olimpíadas, 66, Vila Olímpia, tel. 011/820-2326)
Quando: de amanhã a 3 de agosto (quintas, às 21h30; sextas e sábados, às 22h; domingos, às 20h)
Quanto: de R$ 35 a R$ 70

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