São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
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Lei de Thirlwall, 2

ANTONIO DELFIM NETTO

Há duas semanas publicamos, neste mesmo espaço, uma relação deduzida pelo professor A.P. Thirlwall. Ela formaliza um resultado intuitivo: no longo prazo, a taxa de crescimento do PIB em termos reais é equivalente à taxa de crescimento das exportações físicas dividida pela elasticidade-renda da demanda de importações. Chamamos de "elasticidade-renda" das importações a relação que se estabelece, no longo prazo, entre o crescimento físico das importações e o crescimento do PIB.
A experiência mostra que quando há sérias mudanças no quadro importador, por exemplo, modificação geral de tarifas, taxas de juros internas muito elevadas com relação às internacionais, dificuldades de crédito interno, sobrevalorização cambial etc., a elasticidade das importações no curto prazo é maior do que a de longo prazo.
No "longo prazo", todas as modificações são absorvidas e metabolizadas. No caso brasileiro, estamos, obviamente, vivendo um momento de grande perturbação da demanda de importações. Toda a política posta em prática a partir de 1990 e acentuada com o Plano Real foi de extremo estímulo às importações. Por isso as elasticidades-renda deduzidas com os dados mais recentes devem superestimar o coeficiente, hoje calculado em torno de 2,5.
Assim, no longo prazo 1% de crescimento físico do PIB produziria um crescimento físico das importações da ordem de 2,5%.
Na mesma nota chamamos a atenção para o fato de que muitos estudos empíricos confirmavam a "lei", quando se tomavam períodos maiores do que dez anos, mas não fizemos referência a nenhum estudo brasileiro. Na semana passada recebemos do economista Marcelo Piancastelli de Siqueira, coordenador-geral da Secretaria do Tesouro Nacional, um artigo que ele e outro economista, o sr. Candido Luiz de Lima Fernandes, publicaram em 1983 sobre "O endividamento externo, balanço de pagamentos e crescimento econômico no Brasil -1965-1978" juntamente com um terceiro economista.
Quem era o terceiro homem? Nada mais nada menos do que o próprio professor Thirlwall, de quem o sr. Marcelo foi aluno na Universidade de Kent!
Trata-se de um interessante trabalho publicado pela Fundação João Pinheiro de Minas Gerais, que vale a pena ser lido, mesmo depois de 14 anos de sua divulgação. Deveríamos nos penitenciar por desconhecê-lo.
Ele usa uma estimativa da elasticidade-renda da ordem de 1,7 e leva em conta os fluxos reais de entrada de capital para sustentar taxas de crescimento do PIB acima das de equilíbrio.
Sua conclusão é a seguinte: "A comparação entre as taxas médias de crescimento atuais e as estimadas sugerem que as hipóteses básicas do modelo são fortemente confirmadas (sic) pelo desempenho real da economia".
E completa: "Do ponto de vista da política econômica a conclusão é imediata: se um país deseja crescer rapidamente, é necessário primeiro reduzir as restrições sobre a demanda originárias do balanço de pagamentos".
Não é o déficit de conta corrente que conta: é a taxa de crescimento físico das exportações. No Brasil nos últimos quatro anos ela tem sido próxima de zero!

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