São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 1997
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Jornalista aponta fraude em sindicato

Esquema beneficiaria empresas

DA REPORTAGEM LOCAL

Responsável pela elaboração de um documento revelando suposto esquema de nepotismo e benefícios pessoais e empresariais no Sindicato de Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, o jornalista Igor Fuser disse que está recebendo ameaça de um diretor da entidade.
Segundo Fuser, Amilton Vieira, diretor do sindicato, teria dito que, se os dois estivessem no Nordeste, Fuser já teria levado um tiro na cabeça e ele estaria na cadeia.
Amilton Vieira disse não ter feito referências ao Nordeste em suposta ameaça a Fuser.
"Disse que, se minha formação fosse outra, essas ofensas poderiam se resolver por uma via de violência."
Fuser é secretário-geral do sindicato, o segundo cargo mais importante da entidade. Em seu documento, de 9 de junho deste ano, ele revela que duas filhas de Vieira trabalham para a empresa Puente, que presta serviços ao sindicato.
A Puente e uma segunda empresa, chamada M&A, são contratadas para prestar serviços ao sindicato. A Puente é responsável por publicações que levam o selo da entidade.
A M&A capta anúncios no mercado publicitário para o jornal "Unidade", órgão oficial do sindicato. Também é responsável pela captação de patrocinadores para eventos da entidade, como congressos, cursos e festas.
A Puente é de Paulo Vieira Lima e Eduardo Ribeiro. A M&A também pertence a Ribeiro, que já foi diretor do sindicato. Segundo Fuser, há uma "relação promíscua" da entidade com as duas empresas.
Lima, que divide a M&A com Ribeiro, é também coordenador da comissão de assessoria de imprensa do sindicato. Além dos contratos com o sindicato, segundo Fuser, a Puente comercializa um "mailing" (relação de nomes e endereços) dos associados do sindicato. A venda é feita para serviços de marketing por mala direta.
Cada etiqueta com nome de jornalista custa R$ 0,90. "A entidade recebeu algum dinheiro por isso?", pergunta Fuser em seu documento. "Em qual reunião da diretoria se decidiu que a lista dos associados é um produto à venda?"
Segundo Fuser, o jornalista Theo Carnier, contratado para editar o jornal "Unidade", mantém "relações comerciais e profissionais" com uma terceira empresa de Ribeiro, a RG Comunicação, que também trabalha para o sindicato.
Por causa da denúncia, o sindicato criou uma comissão para investigar o caso. Fuser integra a comissão, que tem prazo até 8 de agosto para encerrar seu trabalho.
Outro lado
O presidente do sindicato, Everaldo Gouveia, disse "lamentar profundamente que antes que seja apurada uma denúncia, a pessoa responsável por isso saia veiculando isso sem dar qualquer chance de defesa aos acusados".
Segundo Gouveia, os produtos comercializados pelas empresas são responsáveis por 25% da receita anual de R$ 2,8 milhões do sindicato. Ele disse que "desafia qualquer órgão a provar qualquer tipo irregularidade nesses contratos" com a Puente e a M&A.
Ribeiro disse que a acusações são "mentirosas, improcedentes e levianas".

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