São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 1997
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Redução fetal é prática legal fora do país

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O professor Thomaz Rafael Gollop defendeu ontem a redução fetal (eliminação de um ou mais fetos) nos casos de gravidez múltipla como forma de garantir a qualidade de vida dos futuros bebês.
Ele disse acreditar que a prática já é muito utilizada no Brasil, principalmente nos casos de fertilização assistida, apesar de ser considerada pela legislação brasileira como aborto e, por isso, ilegal.
A adoção de redução fetal já é norma ética da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia para os casos de gravidez com três ou mais fetos. Nesses casos, o risco de haver parto prematuro é de 50%, e mais da metade dos bebês apresentam sequelas.
Geralmente, a redução é realizada na 11ª semana de gravidez.
"Na medida em que se deixa sobreviver dois ou, no máximo, três fetos, você está preservando a vida e a qualidade de vida dos fetos que permanecem em evolução", disse.
Na fertilização assistida ou "in vitro", os médicos implantam mais de um embrião para garantir que pelo menos um se desenvolva.
Segundo ele, se os médicos não estivessem fazendo a redução fetal, estaria havendo uma grande quantidade de nascimento de trigêmeos e quadrigêmeos no Brasil.
"Mesmo que se siga a norma da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana de não se implantar mais de quatro embriões, frequentemente ocorre que os quatro embriões se desenvolvem".
Ele considera que essa não é uma opção fácil, porque casais que têm fertilização assistida lutaram para ter um filho e não desejam abortar.
Gollop, que trabalha no Instituto de Medicina Fetal e Genética Humana, em São Paulo, disse que não existem dados sobre o número de fertilizações assistidas nem de reduções fetais no Brasil.
O projeto de lei da deputada Marta Suplicy (PT-SP), que autoriza o aborto nos casos de má-formação do feto, não prevê os casos de redução fetal.
A lei brasileira autoriza a eliminação de fetos quando a gravidez for causada por estupro ou houver risco de vida para a mãe. Também já foram expedidos cerca de 300 alvarás judiciais para aborto de fetos com má-formação, diz Gollop.
"É importante que os especialistas de diversas áreas, inclusive de fertilização assistida, comecem a ter diálogo com juízes, legisladores e sociedade para discutir isso".
Gollop disse ainda que é preciso derrubar "mitos" de que a população brasileira é contrária ao aborto. Segundo ele, o Brasil realiza 1,48 milhão de abortos por ano, para cerca de três milhões de nascimentos.

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