São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 1997
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X-Tudo

CARLOS SARLI

A melhor sensação que um ser humano pode desfrutar sofre há 20 anos limitações. Entre quatro paredes já não vale tudo. Sem camisinha, para os casais ocasionais, não vale nada.
Andar na rua envolve risco. Flertar com uma garota desconhecida pode custar caro no dentista.
Se envolver numa discussão no trânsito pode acabar custando ainda mais.
Enquanto nossos avôs buscavam segurança, e nossos pais, liberdade, a geração atual combina as conquistas das gerações anteriores com a experiência de viver novos riscos.
Evitar um xaveco na menina que deu mole é ruim, mas fazer de conta que não foi com você a fechada que o imbecil deu no seu carro é possível.
Se a sua consciência não está preparada para isso, menos ainda para ir atrás de riscos que realmente valem a pena.
Extreme é a palavra de ordem no momento nos EUA.
De chamadas telefônicas da NYNEX a produtos de limpeza, tudo é X.
Extremo já foi sinônimo de algo inconveniente. Hoje, os extremismos estão por toda parte. No modo de vestir, de agir e no que nos interessa, nos esportes.
Os coletivos vêm cedendo espaço para os individuais, herança que talvez tenhamos adquirido das centenas de horas solitárias que passamos diante da TV na infância.
Os "extreme esportes" são, em sua maioria, individuais.
Traduzem uma necessidade de comunhão com o espaço, com a natureza.
Traduzem a vontade de fazer algo maior do que a grande maioria está disposta a fazer. Traduzem a disposição de correr riscos calculados.
Se é para se expor, faça isso urrando dentro de um tubo, escalando uma parede de 300 metros, deslizando a milhão sobre uma prancha de neve.
E não xingando a mãe de um incompetente qualquer que te incomode.

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