São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 1997
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A GELADEIRA E A ELEIÇÃO

Os números sobre venda de eletrodomésticos em junho parecem a mais recente comprovação de que os ganhos salariais advindos do fim da inflação estão chegando ao fim.
Houve uma queda de 10,28% nas vendas, em comparação com maio, por dois motivos básicos, segundo a avaliação de Roberto Macedo, presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos): a estabilização da renda, que havia crescido com o real e o esgotamento da capacidade de endividamento dos consumidores.
A trajetória de crescimento das vendas de eletrodomésticos segue a da evolução dos salários reais (descontada a inflação), após a estabilização.
No primeiro semestre de 95, imediatamente após a redução da inflação, as vendas subiram 40,11%. Nos seis primeiros meses de 96, o crescimento foi algo menor, mas, ainda assim, imponente (30,80%).
Mas, no primeiro semestre de 97, as vendas subiram apenas 2,82%.
Ocorreu praticamente o mesmo com os ganhos salariais: ao terminar o primeiro ano pós-Real, os salários haviam subido 18,2% acima da inflação. Ao final dos 12 meses seguintes, os ganhos ficaram em 6,61%. E, em fevereiro de 97, data dos últimos dados oficiais disponíveis, o ganho anual já se limitava a 0,9%.
A comparação entre essas duas estatísticas torna evidente o enorme ganho que os assalariados tiveram com o controle da inflação. Mas mostra também que o benefício se esgota inexoravelmente com o passar do tempo.
Resta agora esperar para ver o eventual efeito eleitoral desses dois fenômenos. O presidente Fernando Henrique Cardoso, identificado como o responsável pela estabilização, pode ser premiado com a reeleição exatamente por isso. Mas pode também ser punido porque o efeito dela sobre os salários está se extinguindo.
Só a evolução da economia nos próximos meses permitirá avaliar melhor qual das duas hipóteses se materializará nas urnas de 1998.

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