São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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Reveladas cartas inéditas de Mário de Andrade

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nesta segunda-feira, um mistério que se arrasta há 52 anos será revelado ao público. As cartas recebidas pelo escritor Mário de Andrade, autor de "Macunaíma" e um dos mais importantes intelectuais brasileiros, serão colocadas à disposição para consulta no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), da Universidade de São Paulo (USP), sob a forma de catálogo.
Ao todo, deverão ser 7.000 documentos, entre mensagens enviadas e recebidas, que ficaram trancafiados por cinco décadas, a pedido do escritor. Com cartas desconhecidas de Manuel Bandeira, Carlos Drummond e Villa-Lobos, entre outros, a revelação do acervo é um dos maiores acontecimentos literários das últimas décadas.
Também vem à luz outro volume de correspondência inédita de Mário de Andrade (1893-1945), que não faz parte nem do acervo do IEB. A Folha publica hoje, com exclusividade, duas das cartas do escritor a José Bento Faria Ferraz, seu secretário particular entre 1934 e 1945 (leia entrevista à pág. 4-4). Elas devem ser reunidas por Marcos Antônio de Moraes no livro "Minúcias do Cotidiano".
Acervo
Guardadas sob absoluto sigilo desde a morte de Mário, as cartas recebidas pelo escritor prometem revelar aspectos singulares sobre os artistas e o meio literário brasileiro nas décadas de 20, 30 e 40.
Um dos principais conjuntos é a correspondência com o poeta Manuel Bandeira, considerada por acadêmicos que já a analisaram como "o mais importante documento do modernismo brasileiro". A Folha também traz hoje trecho inédito de uma dessas cartas (leia nesta página).
O acervo inclui cartas de personalidades como Pedro Nava, Henriqueta Lisboa, Murilo Rubião, Fernando Sabino, Prudente de Moraes, Guilherme Figueiredo, Villa-Lobos e Erico Verissimo.
A correspondência foi lacrada pela família do escritor após sua morte, respeitando pedido feito em testamento. Ficou até 1967 na casa que foi de Andrade, na rua Lopes Chaves, Barra Funda (zona noroeste de São Paulo).
Naquele ano, foi adquirida pela USP, numa iniciativa do professor e escritor Antonio Candido, junto com todo o acervo que forma hoje o Arquivo Mário de Andrade.
São 30 mil documentos -entre textos jornalísticos, pesquisas etnográficas e musicais, correspondência, manuscritos de obras-, uma biblioteca de 17 mil volumes, três coleções de artes plásticas e objetos pessoais.
O acervo foi tombado como patrimônio nacional em 11 de setembro de 95, após um processo que durou 15 anos. De todo esse material, no entanto, a correspondência passiva (recebida) é o único conjunto ainda não revelado.
Para deliberar sobre seu destino foi criada uma comissão, formada pelas professoras Telê Ancona Lopes, Marta Rossetti Batista e Flávia Toni, pelo escritor Antonio Candido e sua mulher, a ensaísta Gilda de Mello e Souza, por Carlos Augusto de Andrade, sobrinho do escritor, e pelo estagiário Marcos Antônio de Moraes.
A comissão de um grupo restrito de pesquisadores começou a abrir e catalogar a correspondência há cerca de dois anos, quando foi cumprido o prazo estipulado por Mário. Mas decidiu proibir o acesso ao material até que todo o trabalho estivesse realizado.
Outro ponto que ainda pode restringir a consulta às cartas é a questão jurídica. Isso porque, apesar de os documentos pertencerem ao IEB, seu conteúdo intelectual é dos autores ou de suas famílias. Segundo Telê Ancona Lopes, apenas com autorização do familiar é que os textos poderão ser consultados.

LEIA MAIS sobre Mário de Andrade às págs. 4-3 e 4-4

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