São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 1997
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VERSACE

EDIANA BALLERONI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MIAMI

Testemunhas teriam visto Andrew Cunanan saindo da casa de médico morto a tiros a meia hora de Miami Beach

Suspeito pode ter cometido novo crime
Andrew Cunanan, o único suspeito de matar o estilista italiano Gianni Versace, pode ter assassinado o médico Silvio Afonso, 44, em Miami Springs, que fica a cerca de meia hora de Miami Beach, onde Versace foi morto terça-feira.
Por volta das 6h de ontem, testemunhas viram um homem que corresponde à descrição de Cunanan deixando a casa da vítima.
O alarme contra roubo havia disparado, e o homem corria. A polícia chegou rapidamente ao local e encontrou a porta aberta e o médico morto em sua cama.
Ele era homossexual, de acordo com o seu jardineiro, Gus Garcia, e vizinhos. Garcia acrescentou já ter visto alguém parecido com Cunanan na casa do médico.
Até o fim da tarde, a polícia não havia divulgado mais informações sobre o caso. Sabe-se que Afonso é branco, cubano, de classe média alta e que teria sido morto a tiros.
No final da tarde de ontem, dezenas de policiais vasculhavam a área em volta da casa do médico. Uma sacola preta, com roupas, que o suspeito carregava quando fugiu, foi encontrada. A Folha apurou que o criminoso deixou impressões digitais na casa e roubou algumas coisas.
Na manhã de ontem, o corpo de Versace foi cremado na presença de um representante da família (leia texto ao lado). O enterro será feito em Milão na segunda-feira.
Hoje, em Miami, será realizada uma missa em sua memória, na St. Patrick's Roman Catholic Church.
Na picape vermelha recuperada pela polícia em um estacionamento a três quadras da casa de Versace foram encontrados um passaporte e um cheque de Cunanan.
A picape pertencia a William Reese, zelador de um cemitério em Nova Jersey, que Cunanan supostamente teria matado para roubar a picape.
Na quarta, a Procuradoria da República denunciou Cunanan por esse crime. Segundo funcionários do estacionamento, a picape estava parada ali havia pelo menos duas semanas. A placa do veículo, da Carolina do Sul, era roubada.
Cunanan teria sido visto na noite do crime em uma casa noturna gay, chamada Choices, em Boca Raton, a cerca de uma hora de Miami Beach. Uma pessoa o teria reconhecido, seguindo-o até seu carro quando ele saía do local. A placa, aparentemente, era de um carro roubado.
Há pessoas "vendo" Cunanan em todo o país, mas a polícia e o FBI dizem acreditar que ele ainda esteja no sul da Flórida -principalmente devido às informações que pessoas estão fornecendo por telefone.
Recompensas foram criadas para quem der dados que conduzam ao suspeito. Elas já somam US$ 45 mil, sendo que US$ 10 mil foram oferecidos pelo prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani.
Ontem, associações de homossexuais protestaram contra a ausência de informações sobre Cunanan antes da morte de Versace. Se a polícia sabia que um spree ou serial killer que está matando gays estava na Flórida, as associações deveriam ter sido avisadas, argumentam os ativistas.
Psicólogos afirmam que Cunanan irá matar outra vez, e logo. Ter deixado o passaporte dentro da picape roubada foi como "assinar" o crime, e dizer que ele é mais inteligente do que a polícia.
Na última quarta-feira à noite, a maioria das redes nacionais de televisão entrevistou amigos e ex-colegas de Cunanan.
Todos o descreveram como uma pessoa muito culta, envolvente e inteligente.
Negaram que ele sejam um "prostituto", como sua mãe afirmou. Ele costumava ter namorados mais velhos e ricos, mas não se prostituía, salientaram. Todas as provas que estão sendo encontradas, dizem os amigos, foram deixadas de propósito -não se trata de estupidez.
A região onde Versace vivia está repleta de hotéis e restaurantes. Muitos têm sistemas de segurança por vídeo, e a polícia está utilizando vários deles para reconstituir o dia do crime. Em um deles, do hotel Tides, uma pessoa aparece correndo logo após o crime. A imagem, contudo, é muito ruim.
A polícia não descarta a possibilidade de que Cunanan tenha retornado à cena do crime mais tarde, e por isso também está analisando fotos tiradas da multidão que se formou diante da mansão de Versace após o crime.

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