São Paulo, sábado, 19 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pitta admite caixa baixo e contém gastos

MAURO TAGLIAFERRI
ROGÉRIO GENTILE

MAURO TAGLIAFERRI; ROGÉRIO GENTILE
DA REPORTAGEM LOCAL

Prefeito diz que dificuldades nas contas da prefeitura são momentâneas, mas reduz ritmo de obras

O prefeito Celso Pitta admitiu ontem que a administração municipal de São Paulo passa por dificuldades de caixa, que o forçam a conter despesas e a impor um ritmo lento às obras em andamento.
"Nós estamos num momento particularmente delicado na questão de caixa. Mas é uma questão de momento", declarou Pitta, em entrevista exclusiva à Folha.
Ele confirmou que as causas do problema são as apontadas pelo secretário das Finanças, José Antônio de Freitas, e publicadas ontem na Folha: arrecadação do ICMS abaixo do previsto e dívidas de curto prazo herdadas da gestão Maluf na casa de R$ 992,9 milhões.
Pitta, no entanto, não teceu nenhuma crítica ao antecessor e padrinho político.
*
Folha - Em abril, o sr. disse que a prefeitura era uma das poucas entidades de governo que pagavam as contas em dia. Hoje, ela acumula dívidas e atrasa repasse de recursos. O que mudou?
Celso Pitta - As explicações foram dadas pelo secretário Freitas e publicadas hoje (ontem) pela Folha, e eu as referendo. Nós estamos num momento, vamos dizer assim, particularmente delicado na questão de caixa. Mas é uma situação de momento.
Os atrasos são perfeitamente administráveis e de forma alguma indicam algum desequilíbrio estrutural das finanças da prefeitura.
Folha - O secretário de Serviços e Obras e das Vias Públicas, Reynaldo de Barros, disse que está se sentindo ocioso...
Pitta - Acho que o dr. Reynaldo tem muito do que se ocupar além da tarefa de ser secretário das Vias Públicas. Ele se referiu unicamente à questão de obras, mas as responsabilidades dele são imensas. No que diz respeito à Secretaria de Serviços e Obras, veja você o número de escolas e creches que nós inauguramos nesses primeiros sete meses de administração. Se ele se sente ocioso na Secretaria das Vias Públicas, na de Serviços e Obras ele está a plena carga.
Folha - Quanto tempo deve durar essa dificuldade financeira da prefeitura? Ela pode adiar a implantação do fura-fila?
Pitta - De forma alguma. Os recursos orçamentários do projeto fura-fila já estão assegurados. Essa dificuldade a que você se refere é momentânea e o projeto fura-fila tem a maior parte de seu desembolso prevista para o ano que vem.
Folha - O sr. acha que a situação melhora entre agosto e setembro?
Pitta - Quando falo em situação momentânea, a expectativa que temos é exatamente essa.
Folha - A receita de 97 (R$ 7,6 bi) é semelhante à de 96 (R$ 7,2 bi). O que está fazendo falta este ano é o dinheiro dos precatórios?
Pitta - Não. A diferença básica de 96 para 97 são as despesas com o PAS, que está em plena carga, e o programa Leve-Leite, que está em plena carga em 97 e, em 96, operou só seis meses.
Folha - Ciente das dificuldades que está encontrando agora, como secretário das Finanças o sr. teria aconselhado o prefeito Paulo Maluf a fazer alguma coisa diferente?
Pitta - Em absoluto, porque todos sabem que a obra mais cara é aquela que está atrasada. A decisão de manter as obras dentro do cronograma é correta.
Não vou tecer considerações sobre a gestão anterior. Reafirmo que o ritmo de obras de 96 foi acelerado. Em 97 estamos num ritmo menos intenso. Mas as obras que compõem as veias mestras do nosso plano de governo estão mantidas. Não estou abrindo novas frentes de trabalho. Fiz um cronograma adequado à disponibilidade financeira, que está sendo cumprido a uma velocidade adequada.
Folha - O sr. citou o PAS, o Leve-Leite, o Cingapura, que vêm da gestão Maluf e consomem parte do Orçamento. Frustra-o não poder implantar um projeto pessoal?
Pitta - Se eu fui eleito para dar continuidade a uma bem-sucedida administração, seria até uma incoerência de minha parte tomar um procedimento diferente.
Folha - Em relação ao Vectra adquirido pelo sr., quem foi a pessoa encarregada de fazer a compra?
Pitta - Tudo o que eu tinha para falar sobre esse assunto eu já falei. As perguntas agora têm de ser dirigidas às pessoas que estão sendo investigadas pela Polícia Federal.
Folha - O sr. conhecia o doleiro Yasha Moghrabi, que está preso?
Pitta - Nunca vi, não conheço.
Folha - Voltando a falar sobre a situação delicada da prefeitura...
Pitta - Não é delicada.
Folha - Não?
Pitta - Não. Veja, tive toda a minha vida profissional ligada à administração financeira. E administração financeira envolve períodos de folga e períodos de contenção. Estamos momentaneamente numa fase de contenção. Isso é absolutamente coerente com tudo que a boa administração manda fazer.
Folha - Após as eleições de 98, o PAS e o Cingapura correm o risco de não serem mais prioridade?
Pitta - Essa mesma pergunta foi feita o tempo todo em 96, durante a campanha. Minha resposta foi afirmativa. Nada indica que seja diferente depois da eleição do (Paulo) Maluf. A área social é prioritária na nossa administração.
Folha - Mas as creches estão com repasses atrasados...
Pitta - Você coloca a coisa como se houvesse um desequilíbrio financeiro. Dez ou 15 dias de atraso é um prazo absolutamente tolerável, não caracteriza descuido com o social. Muitas vezes, o atraso não é nem provocado por falta de recursos, mas por procedimentos burocráticos no processo de liberação de recursos. Desculpe, mas isso não é sintoma de nada.

Texto Anterior: Fogo destrói 40 barracos em favela
Próximo Texto: Rojão fere garoto em inauguração
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.