São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 1997
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Traficantes contratam mercenários

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Quadrilhas de traficantes da região metropolitana do Rio se transformaram em grupos mercenários que atacam e defendem favelas em troca de dinheiro, drogas e participação nos lucros da venda de cocaína e maconha.
Pelo menos três casos comprovados de ataques mercenários ocorreram este ano em favelas da zona norte e de Niterói (município a 15 km do Rio).
Os bandos mercenários foram montados por traficantes poderosos, como Magno Fernando de Souza (Magno da Mangueira), Marcelo Lucas da Silva (Café), Márcio Nepomuceno (Marcinho VP), Marcos Vinícius da Silva (Lambari) e Olissiano do Nascimento (Ulisses).
Marcinho VP, do complexo do Alemão, e Ulisses, de Vigário Geral, estão presos, mas os grupos que criaram continuam vendendo serviços a quadrilhas de menor poderio.
Os mercenários costumam trabalhar para traficantes interessados em tomar de inimigos os locais de venda de drogas. Eles também são chamados para a defesa de traficantes ameaçados.
A polícia considera o grupo comandado por Magno da Mangueira o mais bem estruturado do Rio.
Videotreinamento
Comandante do 4º BPM (Batalhão de Polícia Militar), em São Cristóvão (zona norte), o tenente-coronel Décio Sampaio Coruba afirma que os mercenários treinam tiros e táticas de combate orientados por fitas de vídeo.
Há um mês, a PM apreendeu no morro da Mangueira (zona norte) duas fitas da coleção "Armas de Fogo", vendida em jornaleiros e pelo correio.
"São mercenários do crime organizado atuando na área urbana do Rio. A verdade é essa", disse Coruba.
Investigador da situação do tráfico nas favelas da Tijuca, o inspetor Gilberto Lessa, do 19º DP (Delegacia de Polícia), disse que mercenários montaram "um sistema de guerrilha urbana".
Na sexta-feira da semana passada, policiais do 19º DP prenderam no hospital Lourenço Jorge (Barra da Tijuca, zona sul), um homem que havia sido baleado no morro do Andaraí (zona norte).
O ferido é Izaías Correia Pereira, 27, foragido do sistema penitenciário e originário do morro do Juramento (Vicente de Carvalho, zona norte).
Pereira estava no Andaraí como integrante do grupo mercenário montado por Café, chefe das favelas Divinéia e Borda do Mato.
Os homens de Café invadiram o Andaraí na tentativa de reaver "bocas" tomadas pelo inimigo Wellington Gaspar, o John Lennon. No tiroteio, Pereira acabou ferido, sendo levado por amigos ao hospital.
A quadrilha de Vigário Geral também se mostra bastante ativa. Quando foi preso, no mês passado, o "chefão" Ulisses disse que, nos últimos meses, seu grupo havia participado de ataques contra 31 favelas no Rio, em Niterói, São Gonçalo e Baixada Fluminense.

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