São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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"Robocop é só uma ficção"

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dirce Maria dos Santos, 62, participou pela primeira vez de uma passeata ontem. Mulher de PM aposentado e mãe de um PM e de uma policial civil, Dirce era a "versão terceira idade" dos cara-pintadas.
Pintou o rosto de verde e amarelo e ajudou a segurar uma faixa que reivindicava salários mais altos aos PMs. "Eles precisam de melhores salários e de mais segurança, porque o tipo de serviço que fazem é muito arriscado", disse.
Dirce era uma das mulheres de PMs que participaram da passeata representando os maridos. Segundo ela, seu filho ganha R$ 500, a filha, R$ 800 e o marido, R$ 1.000.
A seu lado estava Cleide Souza Lima, 60, outra cara-pintada. "O governador precisa saber que Robocop é só uma ficção científica. Policial precisa de segurança", disse Cleide, que é mulher, mãe, tia e irmã de PMs.
Alda Carneiro, 54, era outra com grande concentração de policiais na família. Marido, três filhos e genro, todos PMs. Ela participa de manifestações da PM desde 91 e diz que nada mudou. "O salário é miserável."
Todas dizem que os maridos e filhos têm de fazer bicos para complementar a renda e sustentar a família.
O mesmo problema foi apontado por Rute Moraes Pereira, 41, cujo marido é PM há 19 anos. O salário dele, líquido, é R$ 600, diz. O dela, R$ 300. Eles têm três filhos: "Ele tem de fazer bico e corre perigo de vida".
Luiz Carlos Magno, 43, era um dos cerca de 30 delegados que participaram da manifestação de ontem. "Ao longo dos anos, o governo tem imposto uma política de verdadeiro abandono da segurança pública", disse.
Magno afirma que a instituição chegou "ao fim da linha". "Os meus policiais estão passando fome. Eu tenho escrivão morando em favela e funcionário que pede R$ 5 emprestado para poder ir para casa." O delegado, que está há 21 anos na Polícia Civil, diz que seu salário também está longe de ser ideal: R$ 3.900, bruto.

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