São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 1997
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FHC se irrita com crítica e convoca Motta

VALDO CRUZ; LUCIO VAZ; RENATA GIRALDI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso convocou ontem o ministro Sérgio Motta (Comunicações) para uma reunião no Palácio do Planalto. FHC não gostou das declarações de Motta à revista "Veja", segundo o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral.
Amaral, que pela primeira vez condenou comentários de Motta, não confirmou nem negou que Motta seria demitido. "Não tenho condições de fazer comentário."
A demissão de Motta era considerada por amigos do presidente. FHC deve começar repreendendo o ministro publicamente, o que, na opinião dos mesmos amigos, pode levar Motta a pedir demissão.
A convocação foi feita pelo chefe de gabinete da Presidência, José Lucena, que fez o telefonema e informou ao ministro que o presidente queria se encontrar com ele no máximo até hoje de manhã.
Na entrevista, Motta criticou os ministros Pedro Malan (Fazenda), Bresser Pereira (Administração), Eliseu Padilha (Transportes) e Iris Rezende (Justiça) e as nomeações do presidente da ECT, Amílcar Gazaniga, e do diretor do DNER em Minas, Flávio Menicucci. As críticas geraram uma crise entre ministros e políticos aliados e obrigaram FHC a atuar como bombeiro.
O ministro Pedro Malan, por exemplo, só não respondeu publicamente porque foi contido por amigos e colegas de governo.
Malan telefonou para FHC pedindo um encontro, que ocorreu no início da noite no Planalto. A Folha apurou que o ministro considerou as declarações de Motta prejudiciais à economia do país, principalmente agora que o mercado financeiro mundial está agitado por causa da crise asiática.
A equipe econômica avalia que o mercado -interno e externo- pode interpretar o caso como uma mudança de rumo na economia do país. Motta pôs em dúvida a permanência de Malan em um eventual segundo mandato de FHC.
O ministro das Comunicações afirmou que Malan "é um ministro que não abre a boca" nas reuniões de política econômica, e que o senador José Serra (PSDB-SP), ex-ministro do Planejamento, deveria estar cuidando da economia. Serra não concorda com a política econômica, principalmente a sobrevalorização do câmbio.
À tarde, FHC precisou telefonar para os ministros e líderes do PMDB -alvo de Motta. A todos, desautorizou as críticas de Motta, lembrou que as nomeações cabem ao presidente e disse que aprova a atuação de Padilha e Rezende.
FHC falou com Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara, passou ao líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e terminou falando com ministros.
Repetiu que não está satisfeito com as seguidas críticas de Motta a aliados do governo.
(VALDO CRUZ, LUCIO VAZ e RENATA GIRALDI)

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