São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 1997 |
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Música sertaneja (dos EUA)
MARCELO OROZCO
O Wilco é liderado pelo cantor-compositor-guitarrista Jeff Tweedy, 29. Ele participou antes do Uncle Tupelo, banda que no começo da década começou a combinar sons country com um ataque beirando o punk. Em 94, o Uncle Tupelo acabou. No ano seguinte, o Wilco lançou "A.M.", que teve elogios da crítica e atraiu um público pequeno, mas interessado. No fim de 96, ficou pronto "Being There", CD duplo, uma petulância para uma banda relativamente nova. O disco está sendo lançado no Brasil. Para comentar o álbum e como country e rock podem viver juntos, Tweedy falou à Folha por telefone de Chicago (EUA), "relaxado e em casa". * Folha - Por que "Being There" é um álbum duplo, sendo apenas o segundo lançamento do Wilco? Jeff Tweedy - Gravamos um monte de músicas, sentimos que todas combinavam. Era mais interessante mantê-las que descartar algumas para ter um único CD. Cada CD acabou curto. Talvez fique melhor para escutar em vez de um CD longo. Folha - O CD 1 soa mais rock. O CD 2, country tradicional. Tweedy - Não planejamos assim. Apenas pensamos no que faria mais sentido para sequenciar 19 músicas, em como deixar cada música diferente de outra. Folha - Vocês parecem usar a influência country de forma reverente, mas não retrógrada. É isso? Tweedy - Componho todas as músicas no violão há anos. Nunca morei num lugar em que pudesse tocar guitarra alto e não componho em ensaios porque não gosto. Quando você toca violão, folk e country são atraentes. Isso acabou moldando meu estilo de compor. Não tento compor canções country ou folk. Elas apenas acabam assim por eu tocar mais violão que guitarra. Folha - Fica difícil gravar com guitarra uma música que foi composta no violão? Tweedy - Não é tão difícil. Fica mais excitante, porque você nunca ouviu a música daquele modo. Folha - Você já ouvia country quando criança ou adolescente? Tweedy - Não muito. Minha mãe e meu pai gostavam de Johnny Cash (cantor country que iniciou nos anos 50)... Compro discos de tudo que é gente. Sou um fã de música. Todos os clássicos (do country): Don Gibson, Merle Haggard, Buck Owens, Hank Williams (artistas do country entre os anos 40 e 60)... Folha - Então country foi uma descoberta de anos recentes? Tweedy - Acho que comecei a ouvir (country) porque fiquei meio enjoado de rock uma época. Ouvi algumas coisas e percebi que as pessoas compunham canções poderosas, intensas emocionalmente, sem tanta guitarra ou alguém berrando. Era minha idéia de trabalho. Ainda no Uncle Tupelo, tocava covers nos ensaios para aprender o estilo. Folha - Você começou a ouvir country quando estava enjoado de rock. Letras de "Being There", como "Misunderstood" e "I Got You", passam um desencanto com o que o rock é hoje. É isso mesmo? Tweedy - Não é bem um desencanto. É que várias canções são sobre minha relação pessoal de tocar em bandas de rock desde os 15 anos. Continua tão importante pra mim quanto sempre foi. No fim, é o que eu faço e eu devia estar feliz. Folha - O Wilco não segue a postura lo-fi (abreviação de "low fidelity", baixa fidelidade em inglês) que bandas como o Pavement usam para soar mais sinceros e espontâneos. Seus CDs são bem gravados, bem tocados. Como você compara esses modos de criação? Tweedy - Eu adoro Pavement. Acho que é o caso de funcionar. Eles fazem o que soa ótimo para eles. Nós procuramos fazer discos que soem ótimos para a gente. Seria tolo e ingênuo tentar esconder que aprendemos a tocar (risos). Tocamos há muito tempo e melhoramos muito. Gosto dos discos que fizemos e acho que há muito espaço para evoluir. Buscamos fazer um álbum com som tão bom quanto o "White Album" (álbum duplo de 1968 dos Beatles), que ainda é impressionante. Folha - Você tem receio de que o rótulo de country evite que pessoas desinteressadas por esse estilo ouçam a banda, mesmo vocês sendo primariamente roqueiros? Tweedy - Acontece com todo mundo. Os Beatles apareceram como "Mersey beat". Bob Dylan era "um cantor folk". Todos foram encaixados em categorias antes de vender milhões de discos. Folha - O que você sabe sobre o Brasil? Tweedy - Não muito. Só que gostaríamos de ir aí. Vamos fazer uma turnê pelos EUA e Canadá abrindo para Sheryl Crow. Começa em julho e vai até fim de setembro. Só daria para ir ao Brasil no fim do ano... (risos) Texto Anterior: Moda praia marca presença no evento Próximo Texto: Vigor é marca do CD duplo Índice |
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