São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Ópera 'inédita' encena tirania dos homens

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Pouco depois do final da Segunda Guerra Mundial, o compositor inglês Benjamin Britten (1913-1976) apresentou pela primeira vez a ópera "A Violação de Lucrécia".
O tema ousado causou escândalo na Inglaterra e a encenação ficou pouco tempo em cartaz.
Pouco mais de 50 anos depois, "A Violação de Lucrécia" ganha sua primeira encenação no Brasil: será apresentada hoje e domingo na Sala Cecília Meireles (centro do Rio de Janeiro).
"É uma obra difícil, com um texto muito forte, pesado, que fala sobre a dominação masculina sobre as mulheres e a tirania dessa dominação", diz o maestro Roberto Tibiriçá, regente da encenação.
A apresentação de "A Violação de Lucrécia" faz parte do projeto Ópera na Sala, criado pela Funarj (Fundação de Artes do Rio de Janeiro).
Tradicionalmente dedicada a concertos e recitais, é a primeira vez que a sala recebe uma ópera.
"Há um vasto repertório operístico, adequado a salas menores, que não é encenado em palcos como o do Teatro Municipal. É esse repertório que pretendemos trazer para a sala", explica Walter Santos Filho, vice-presidente da Funarj.
"A Violação de Lucrécia" coloca em cena oito cantores, que são acompanhados por 12 músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira. Na encenação, dirigida por Alberto Renault, cantores e músicos dividem o palco.
A divisão foi a solução encontrada pelo diretor para solucionar um "problema" da casa: por ter sido criada para concertos, não há um fosso para a colocação da orquestra.
"Poderia usar a solução tradicional, que seria retirar algumas cadeiras da primeira fila e colocar lá os músicos, mas acho que eles podem atuar no palco, como contraponto para a encenação, interagindo com os cantores", diz Renault.
A "coabitação" no palco, para Renault, ressalta a teatralidade da montagem. Em um dos momentos da ópera, por exemplo, a personagem Lucrécia (interpretada pela mezzo-soprano norte-americana Barbara Rearick), ao ouvir a aproximação de alguém, pede silêncio aos músicos.
"É a vingança dos cantores. Ela manda o maestro parar de tocar", brinca o diretor da encenação.
Para o maestro Roberto Tibiriçá, a ópera de Britten tem uma forte lucidez harmônica e exige muito dos 12 músicos. De acordo com Tibiriçá, apesar de ter sido composta na década de 40, a ópera tem uma estrutura tradicional, sem "arroubos de vanguarda".
Por ser uma peça pouco conhecida do repertório clássico, a execução da partitura vem exigindo muitos ensaios dos músicos.
"Não é como 'Carmen' ou 'Aída', que todo mundo sabe de cor. Os músicos precisaram estudar bastante a partitura", afirma.
"A Violação de Lucrécia" será apresentada hoje, às 20h e domingo às 19h. No elenco da encenação estão os norte-americanos Arthur Thompson (barítono), Barbara Rearick (mezzo-soprano) e os brasileiros Lício Bruno (baixo), Carol McDavitt (soprano), Fernando Portari (tenor), Sebastião Teixeira (barítono), Edinéia de Oliveira (mezzo-soprano) e Juliana Franco (soprano).

Ópera: "A Violação de Lucrécia"
Autor: Benjamim Britten
Onde: Sala Cecília Meireles (largo da Lapa, 47, centro, tel. 021/224-3913)
Quando: hoje, às 20h; dom. às 19h
Quanto: R$ 30 (platéia) e R$ 20 (balcão). Para sócios da Associação dos Amigos da Sala Cecília Meireles, R$ 25 (platéia) e R$ 15 (balcão)

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