São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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Desnível é marca da seletiva mundial

VALMIR STORTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um peso, duas medidas. Apoiados por estruturas díspares, os judocas brasileiros lutam neste fim-de-semana, em São Paulo, por suas chances de participarem do Mundial de Paris, em outubro.
A seletiva acontece no ginásio Mauro Pinheiro, no Ibirapuera (rua Abílio Soares, 1.300).
Durante a pesagem que verificará a adaptação de peso às categorias, as balanças não apontarão a bagagem que cada atleta traz para disputar a competição.
Em um esporte onde se busca, principalmente, o desequilíbrio do adversário, o trabalho de preparação de cada um já é um fator de desequilíbrio.
No meio-pesado, a balança deverá mostrar dois atletas com o mesmo peso -95kg, o limite máximo para a categoria-, mas não apontará uma grande diferença.
Auxiliado pelos patrocínios que recebe da Embratel e da Reebok, o campeão olímpico Aurélio Miguel, 33, medalha de ouro em Seul, em 88, e bronze em Atlanta, no ano passado, viajou para Holanda, Japão e Itália para se preparar.
"Quando se atinge nível internacional, é preciso de grandes torneios para evoluir", diz Aurélio.
Quem pode, ou consegue patrocínio, segue esse caminho; quem não consegue, dá duro.
O também paulista Sidnei Silva é o terceiro atleta da chave de Aurélio Miguel, a zebra, e, portanto, seu primeiro adversário de hoje.
Sidnei Silva, 29, só conta com apoio do Esporte Clube Pinheiros, onde treina, e da Fórmula Academia, onde dá aulas. Assim passa quase o dia todo com o quimono.
Às 8h30 começa sua aula na academia e ao meio-dia vai treinar no Pinheiros, onde almoça. Às 16h volta a dar aulas e, às 19h, vai treinar novamente, às vezes no Pinheiros, às vezes Ibirapuera, onde participa do Projeto Futuro.
Há 19 anos que Sidnei Silva pratica judô e nos últimos anos tem feito estágios no exterior.
"Sempre consigo viajar duas ou três vezes por ano para competir, mas este ano deixou a desejar, me faltou patrocínio e fiquei aqui."
Sidnei Silva diz que não se importou muito com a falta de mais patrocínio devido a morte de seu pai, em janeiro passado.
"Minha família é pequena. Somos eu, minha mãe e minha irmã. Não era hora de sair mesmo", diz.
O campeão dessa chave do meio-pesado -completada com o carioca César Fernandes- enfrenta amanhã, em melhor de cinco lutas, o campeão da outra.
Além do Mundial, quem vencer amanhã assegura sua participação no Sul-Americano da Colômbia, e no Pan-Americano do México.
O bronze da última Olimpíada, garantiu a Aurélio Miguel sua pré-classificação para esta fase da eliminatória. Os demais começaram a disputá-la bem antes.
"Realmente há um grupo de elite que é beneficiado, mas antes de ser campeão olímpico, eu também colocava dinheiro do bolso. A seleção francesa tem oito atletas treinando em cada categoria, mas lá até a TV acompanha", diz Aurélio.
Além do suporte técnico de Aurélio Miguel, Sidnei Silva terá que superar a confiança do adversário.
Aurélio Miguel tem uma programação de preparação que visa alcançar seu potencial máximo em outubro, no Mundial, e não mudou nada para disputar a seletiva.
"As quatro vezes em que ele me derrotou, eu não disse nada, mas na última disputa, em 95, eu venci, e ele disse que estava machucado. Nos damos bem, mas, no tatame, vai esquentar", afirmou Sidnei.

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