São Paulo, sábado, 26 de julho de 1997
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'Um Tiro para Andy Warhol' é filme para turistas

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre os inúmeros defeitos de "Um Tiro para Andy Warhol", um dos mais incômodos é ver o mais famoso artista plástico pop representado como um débil mental. Mas esse nem é o maior problema do filme.
"Um Tiro para Andy Warhol", obra de estréia da cineasta Mary Harron, é uma espécie de filme para turistas. Apresenta o espectador desavisado ao mundo de Warhol, mas o faz de forma tão superficial e confusa que quase não sobrarão lembranças decentes dessa visita.
O filme toma como seu o ponto de vista da principal protagonista, a militante feminista lésbica Valerie Solanas. Autora de uma manifesto chamado "Escória", no qual argumenta que, comparados às mulheres, os homens são seres inferiores, Solanas conseguiu seus 15 minutos de fama ao atirar em Warhol, em 3 de junho de 1968.
Antes dessa consagração, Solanas chegou a fazer uma ponta no filme underground "I, a Man", dirigido por Warhol, em 67. Naquele ano, Solanas havia conseguido entrar na Factory, o famoso galpão nova-iorquino onde Warhol e seu louco grupo de amigos e candidatos a artistas bebiam, se drogavam e às vezes criavam.
Sem dinheiro, sem amigos e com a sua apocalíptica idéia fixa de propor o extermínio dos homens, Solanas seria apenas mais uma candidata a escritora "underground", se não tivesse cometido o crime que a deixou famosa.
A diretora Mary Harron não se contenta em narrar a vida dessa personagem atormentada. Harron parece concordar com as idéias de Solanas, a "intelectual" que escreveu, por exemplo: "Chamar um homem de animal é elogiá-lo demais. O homem é uma máquina, um cretino que anda.".
Ouça a diretora: "Como qualquer um, sempre achei que Valerie era louca, Em 1988, consegui uma cópia do manifesto 'Escória' e fiquei surpresa em descobrir como ela podia ser tão brilhante".
Mesmo quem não tem nenhuma simpatia pela mitologia criada em torno do mundo de Warhol vai se decepcionar com este filme. "Um Tiro para Andy Warhol" ataca a Factory da maneira mais ineficaz, que é a paródia.
Ridicularizando o artista plástico e seus amigos, Harron não consegue provocar risos, mas somente sorrisos amarelos.
Construído com clichês cimentados em clichês -"Andy se machucou no grande jogo da realidade", diz uma personagem- "Um Tiro para Andy Warhol" tem até, como não poderia deixar de ser, música brasileira na trilha sonora (Sérgio Mendes numa interpretação óbvia de "Mas Que Nada").
O desempenho da atriz Lili Taylor, premiada por sua atuação , é considerado por alguns críticos como um bom motivo para se assistir o filme.

Filme: Um Tiro para Andy Warhol
Produção: EUA, 1996
Direção: Mary Harron
Com: Lili Taylor, Stephen Dorff
Onde: no Estação Vitrine

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