São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Doutor da alegria ajuda a curar crianças

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Receber a visita de palhaços durante a internação ajuda a melhorar o comportamento e a acelerar a recuperação de uma criança.
Esses são, segundo uma pesquisa que está sendo feita na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, os principais resultados obtidos pelos "doutores da alegria" em suas visitas a hospitais.
A pesquisa foi apresentada neste mês num congresso internacional sobre humor e saúde. Dos 11 trabalhos sobre humor e imunodepressão, só a pesquisa de São Paulo estudou pessoas doentes. As outras observaram pessoas saudáveis.
Os "doutores" são artistas especializados em teatro clown (que inclui técnicas de performance teatral, malabarismo e música).
O grupo é formado por 16 artistas que visitam as crianças internadas duas vezes por semana. Cada visita é sempre uma forma de sátira à rotina médica. O principal elemento do trabalho é o improviso.
A mudança de comportamento das crianças após as visitas é nítida para pais, médicos e enfermeiras.
A maioria afirma que os pacientes ficam mais relaxados, alegres e se movimentam mais depois da passagem dos "clowns".
"Os doutores ajudam a criança a perceber outra forma de ver a internação, pois o palhaço tira graça da dificuldade e ri de situações desconcertantes", diz Morgana Maseti, autora do estudo.
Esse comportamento, segundo os médicos entrevistados pela pesquisadora, ajuda na recuperação. Para eles, sorrir fortalece o organismo. Além disso, as crianças passam a esperar e até a se preparar para a volta dos palhaços, o que também é positivo.
A pesquisa avaliou as reações de 68 crianças, 29 pais e mães e 30 profissionais dos hospitais paulistas Albert Einstein e Nossa Senhora de Lourdes. Os pais foram entrevistados e as crianças avaliadas por desenhos feitos antes e depois da passagem dos "clowns".
A comparação entre as figuras feitas antes e depois da visita mostra que os últimos desenhos ficaram mais coloridos e com traços mais nítidos.
Mas a principal mudança ocorreu no enredo das histórias que os desenhos contam. Se antes eles mostram imagens e cores associadas à morte, punição ou tédio, depois passaram a mostrar a possibilidade de uma situação melhor.
A passagem dos doutores influencia também o comportamento de pais e profissionais.
Para médicos e enfermeiras, a visita é uma chance de aprender a melhorar a comunicação com a criança. Grande parte também acha que a presença dos "clowns" melhora a imagem do hospital.
Esse "bom negócio" já foi farejado pelas instituições, que querem ampliar os locais de visitação dos "doutores", incluindo adultos.
Pais ou acompanhantes ficam mais relaxados e tranquilos com a visita e a reação dos pacientes.
"Às vezes o acompanhante precisa mais de nós do que a própria criança. Damos atenção a ele também, e funciona", diz Ângelo Brandini, "doutor" há três anos.

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