São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Escritório em casa leva à 'jornada dupla'

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Consertar, entre um telefonema e outro, o portão quebrado ou uma instalação elétrica em curto. Levar o filho (que mora com a ex-mulher) ao dentista ou sair rapidinho do escritório para comprar aquele condimento em falta para a hora do almoço.
No último ano, essas atividades passaram a fazer parte do cotidiano do engenheiro Olavo Henrique Dutra Pereira da Rosa, 44, dono de uma empresa prestadora de serviços na Internet. Mais: ele é capaz de cumpri-las sem que isso atrapalhe o seu rendimento profissional.
"Assumi as funções domésticas", resume Pereira da Rosa, que há um ano deixou um emprego no escritório para trabalhar em casa. "Sempre mexi com informática e agora consegui viabilizar o plano de ficar em casa."
Segundo ele, os pequenos quebra-galhos domésticos são feitos em horários considerados mortos -quando não consegue encontrar o cliente, numa hora de almoço ou no final do dia, quando anteriormente ele ficava duas horas preso no trânsito tentando chegar a sua residência.
O plano de Pereira da Rosa tem um atrativo a mais: a casa da família fica em um terreno de 10 mil metros quadrados no centro de Osasco (cidade da Grande São Paulo), com direito a passarinhos e 60 tipos de árvores frutíferas e muita área verde.
Novos executores
Na prática, a desculpa de que está no escritório e não pode sair deixa de ser um escudo para o universo de executivos e profissionais liberais que começam a trabalhar em casa. A consequência é que tarefas até então muitas vezes consideradas femininas ganharam novos executores.
José Dauster Sette, 41, secretário-geral da Associação Brasileira dos Exportadores de Café, diz que depois que montou seu escritório em casa, passou a pegar o filho na escola e a fazer serviços bancários. "Não tenho mais boy."
A associação que ele dirige colocou na ponta do lápis os custos de manter um escritório no Rio de Janeiro e decidiu que Sette devia trabalhar em casa. "Agora, só costumo colocar terno e gravata duas vezes por semana, quando vou ao centro da cidade circular nas empresas exportadoras de café."
Faxineira
Outra novidade para quem deixou o escritório é o horário da faxineira. Antes, ela jamais incomodaria um executivo trabalhando. Mas quem tem o escritório em casa tem de parar de trabalhar, ou mudar de sala quando ela chega, diz o consultor Luiz Eduardo Gasparetto.
"Outra dificuldade é que a geladeira está sempre perto, e eu estou de regime", afirma. Com a experiência de dez anos trabalhando em casa, Gasparetto diz que é preciso saber preservar o espaço do escritório. Com a onda de Internet e joguinhos de computador, são muitos os filhos que querem o escritório do pai para um lazer a qualquer hora. "Às vezes, é preciso ser rigoroso com a família."
Animado com conversas como essas, Dilermano Allan Filho, 57, dono da Dyal Engenheiros Consultores, começou a trabalhar em casa há uma semana. Ele alugou uma casa maior, com duas entradas independentes, para o escritório e a residência. "Reduzi as despesas fixas do escritório em 45% e tornei a minha vida mais prática."
O cachorro e a neta que mora com ele lhe fazem companhia. "Sei que vou ter de administrar o fundo musical no trabalho." Por fundo musical, entenda-se os latidos do cachorro e a conversa de crianças no quintal, o que não ocorria no escritório tradicional.

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