São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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A direita rareia no nosso futebol

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Outro dia, falei sobre o império dos canhotos. Monopólio seria a palavra mais atual e precisa. Pois, na mesma proporção que sobra talento por aquele lado do campo, rareia no oposto.
Quer um exemplo? Tente formar assim de cabeça uma seleção só com atletas em atividade por aqui. Tá vendo? Já embatucou na lateral-direita, onde só temos Cafu e Zé Maria, dois expatriados, num nível pouco superior ao de um André ou de um Serginho, que aqui ficaram, mantendo o status de Roberto Carlos e Zé Roberto, que partiram.
Na meia-direita, então, pegue uma lupa. Nem assim. Simplesmente, não há um meia, destro, insinuante como os canhotos Denílson, Alex e Souza, para não falarmos em Rivaldo, Djalminha e Leonardo. A bem da verdade, até mesmo na diáspora essa figurinha difícil se resume a Juninho, Giovanni e Marcelinho.
Prova disso é o dilema em que está metido o Corinthians, que se desfez de Marcelinho e, mesmo com um banco por trás, não consegue achar um substituto, nem que seja um patamar abaixo. Não há.
Conclusão: a direita está se extinguindo, em pleno neoliberalismo. Pelo menos, no futebol brasileiro.
*
Não poderia ter sido mais desastroso o lance de marketing caboclo do presidente Farah.
Não só levou bordoada de todo lado como ainda por cima sofre pressões para passar uma borracha na única idéia luminosa que teve desde sua posse há nem sei mais quantos anos: a disputa de um torneio, com TV e tudo, que mantivesse a massa dos clubes pequenos em atividade, preservando os grandes para a fase decisiva. Única, não -a segunda, pois a primeira foi aquela de punir as faltas coletivas no Rio-SP.
Pois bem, meu caro Farah, se tiver que voltar atrás, volte, mas mantenha o princípio fundamental -o de preservar os grandes dessas fases de classificação cansativas, inócuas e deficitárias que estão matando o futebol brasileiro.
Como? Simples. Basta colocar os quatro grandes como cabeças-de-chave de cada grupo de quatro. Cada grupo joga só joga entre si. Em três rodadas, saem os campeões das chaves, que disputam o título do turno. Para o turno seguinte, rodízio e pau na máquina.
No final de dois, três ou quatro turnos, quantos derem nas datas disponíveis, os campeões dos turnos disputam o título. É tudo jogo decisivo, desde a primeira rodada, um campeonato para consagrar qualquer cartola. Até o Farah.
*
Para este domingo, a tabela desse torneiozinho safado da CBF nos reserva dois clássicos de fora: o baiano Ba-Vi e o carioca Flamengo e Vasco. Os baianos ainda não vi em ação. Colho apenas os ecos dos gritos de gol de Bebeto.
Já os cariocas, o que tenho visto é um Flamengo em crise e um Vasco em plena ascensão, sobretudo depois da chegada de Evair a São Januário, para recompor a dupla palestrina com Edmundo, e da passagem de Válber para o meio-campo.
Penso no Paulinho da Viola, no Moacir Japiassu, no Sérgio Cabral e me dá uma vontade de vestir a faixa do Almirante. Mas aí baixa a assombração de Eurico Miranda...

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