São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Audição animal

DA NEW SCIENTIST

Só emitindo sons e ouvindo ecos, golfinhos conseguem detectar um peixe do tamanho de uma bola de golfe a uma distância de 70 metros -mesmo em águas turvas e lamacentas, cheias de lixo. Em uma piscina, um golfinho encontra a cápsula de vitamina que você perdeu no fundo.
Pesquisadores também filmaram golfinhos usando seu sonar em águas abertas para detectar minúsculas enguias e outros pequenos comestíveis se mexendo na lama do leito do mar. O golfinho ouve e depois mergulha no lodo para buscar seu "lanchinho".
A marinha norte-americana, que tenta alcançar a "tecnologia" animal, colocou há três anos Jim Kadtke, físico teórico da Universidade da Califórnia, para decodificar os segredos do golfinho. Sua formação pouco comum está valendo a pena porque, aparentemente, a chave para entender o fenômeno está na estranha e sofisticada Teoria do Caos.
Um golfinho emite intermitentes "estouros" de som -cada um deles dura menos de uma milésima parte de um segundo e contém frequências muito além do alcance do ouvido humano. Órgãos especiais na cabeça do golfinho fazem esses "clicks" e recebem seus ecos.
Tudo isso já era sabido. A verdadeira dificuldade para pesquisadores é entender como o golfinho extrai informações dos ecos, isto é, como de um reflexo do leito do oceano, ele entende a informação "comida fresca".
O estudo de golfinhos em cativeiro há mais de 20 anos dá algumas dicas do problema. Pesquisadores desenvolveram um método de fazer uma pergunta e obter resposta do golfinho.
A idéia é treinar o animal a usar o seu sonar para identificar um objeto padrão, como uma esfera de alumínio. Uma vez que ele conhece bem o objeto, os pesquisadores testam sua habilidade em distinguir o objeto padrão de um levemente diferente. O golfinho, que usa uma venda para não trapacear, fica de frente para os objetos e manda uma série de "clicks". Ele ouve os ecos, decide qual objeto é o padrão e empurra um de dois remos para indicar em qual lugar está o correto.
Experimentos como este mostram a sensibilidade dos aparelhos auditivos do golfinho, capaz de reconhecer os detalhes mais sutis dos ecos. Em comparação a sonares feitos pelo homem, os golfinhos são excepcionais.
Aplicando a Teoria do Caos, os cientistas descobriram uma ordenação impressionante, escondida por trás dos rotineiros "clicks" dos animais. As variações observadas mostram uma delicada estratégia por parte do golfinho para ajustar seus "clicks", de forma a obter informações mais apuradas.
"O golfinho emite o 'click' e então sintoniza o sinal", diz Kadtke. Isto é, o golfinho em primeiro lugar emite um pulso bastante genérico. Quando ele recebe o eco de volta, dependendo do que ele pensa que encontrou -peixe, barco, homem-, ele modifica o seu próximo "click".
A estrutura de pulsos do golfinho é determinada por sua exigência de tarefas: detectar, classificar, decidir se é comestível ou não. O golfinho distingue um peixe de um maço de algas com um "click" e depois sintoniza os "clicks" subsequentes para descobrir o tipo de peixe, se está vivo ou morto, e se aparenta ser saboroso.

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